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Primeiramente: a direita voltou ao poder. Ninguém duvida que esse é um dos resultados do impeachment de Dilma. A não ser que alguma coisa muito esquisita aconteça daqui até o fim do mês, Michel Temer chegou para ficar até 2018. E as chances de a direita vencer também as eleições daqui a dois anos parecem muito grandes – principalmente depois da derrocada moral do petismo.

Isso não quer dizer que a esquerda brasileira tenha morrido, claro. Mas para não se enterrar ainda mais, vai precisar ter um mínimo de maturidade e parar com um discurso patético: o de que não houve corrupção no petismo. O discurso tem variações: o PSDB foi pior (!); o partido só fez caixa dois (!!); a Lava Jato foi orquestrada pelo FBI (!!!). Há até uma espécie de neomalufismo: o rouba-mas-faz-pelos-pobres.

No fundo dá tudo na mesma. Ou se nega que houve roubo, ignorando todos os indícios, depoimentos, provas e gravações. Ou se dá a entender que o jogo é mesmo assim e que não tem outro jeito de fazer as coisas. E por que começar a cassar justamente quando o PT chegou ao poder? Deixa pra pegar outro!

Vamos supor que todas as insanidades estejam sendo ditas com um objetivo prático: tentar salvar o governo de Dilma. Passado o impeachment, nos próximos dias, será hora de admitir a derrota e se perguntar o que fazer. A pior opção é dar a público a explicação da vítima do sistema. E insistir em tentar fazer a população de trouxa afirmando que não houve corrupção (quando o marqueteiro, o doador de campanha e o líder do governo, sem falar em um punhado de diretores da Petrobras, já admitiram o contrário).

Se não admitir a corrupção, se não admitir o erro, o PT estará dizendo ou que somos todos malucos que veem coisas que não existem ou passará a mais terrível das mensagens: a de que o partido realmente faz aquilo que seus adversários dizem, aceitando a corrupção em nome da causa. A única saída decente é admitir o erro, baixar a cabeça e começar uma reconstrução.

O PT fez uma opção em 2002 quando decidiu abrir mão de seu purismo para disputar a sério a Presidência. Vendeu a alma ao sistema eleitoral, às empreiteiras, aos bancos e como recompensa o diabo lhe entregou votos suficientes para eleger Lula. O projeto deu certo e a operação, ao que tudo indica, se repetiu nos mesmos moldes nas três eleições seguintes. Mas o encanto acabou e o partido se espatifou em mil pedaços: vários deles na Papuda ou no Complexo Médico de Pinhais.

A opção anterior da esquerda brasileira – a opção do sapo barbudo que faz bravatas e não chega ao centro do poder – vem sendo hoje repetida pelo PSol. Mas esse purismo serve apenas para uma oposição combativa? Ou, por outro lado: há chance de chegar ao poder sem se corromper? É possível governar sem comprar os 300 picaretas com o dinheiro do Banco Rural? Ou vai-se insistir que esse é o único caminho para implantar um modelo qualquer de governo – e às favas todos os escrúpulos?

O PT começou como um PSol – arrisca terminar seus dias num neomalufismo. Ah, mas o partido tirou milhões da miséria, levou milhões à escola. Verdade. E esse é o legado a ser defendido. Mas isso não pode justificar tudo. Se a esquerda quiser sobreviver, terá de dizer em voz alta: um governo de esquerda enfiou a mão no jarro. E terá de dizer que a esquerda não aceitará isso. Ou ficará justamente com a pecha que seus adversários mais querem lhe colar: a de um partido que aceita tudo em nome de uma aliança que lhe dê o poder.

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