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O presidente dos EUA, Barack Obama, foi obrigado nesta semana a mudar seu famoso slogan de campanha. Um entrevistador, mostrando que ele não conseguiu ainda fazer tudo o que queria, dois anos depois da posse, perguntou se ele não teria de usar algo menos bombástico. Algo como: "Sim, nós podemos... Desde que as circunstâncias permitam".

Obama, claro, não deve ter gostado. E apesar de ser rápido no gatilho, demorou um pouco a responder. Disse que o slogan poderia ser: "Sim, nós, podemos, mas...". A demora para terminar a frase foi o suficiente para a plateia desandar a rir. Em seguida, ele completou: "Mas não vai acontecer da noite para o dia".

O fato é mais comum do que pode parecer. Depois de algum tempo, o novo titular de qualquer cargo é forçado a admitir que não tinha como fazer tudo o que prometeu, pelo menos com a velocidade desejada.

E olha que Obama até vai bem, dentro das possibilidades. O próprio presidente afirmou recentemente que mantém no bolso um papel com a lista de suas maiores promessas de campanha. Quando consegue completar uma tarefa, risca. Diz que a conta está na casa dos 70%. Faz sentido: duas das grandes reformas prometidas, no sistema de saúde e em Wall Street, já aconteceram.

Por aqui, os candidatos não parecem aprender nada com isso. Esquecem a humildade, prometem o impossível e dizem, em resumo, que entregarão o paraíso na terra em quatro anos, aqui mesmo em território brasileiro.

Dilma diz simplesmente que eliminará a pobreza do país: fará do Brasil um país de classe média em seu governo. Serra anuncia medidas que podem até ser feitas, mas claramente afundarão as finanças do país: 13.º para o Bolsa-Família, 10% para os aposentados, salário mínimo de R$ 600 já no ano que vem.

É muito provável que, daqui a dois anos, o novo presidente eleito e empossado tenha de tomar a mesma ducha fria de Obama, percebendo que fazer "um milhão de vagas no ProUni do ensino técnico" não era tão fácil". Ou que "construir 2 milhões de novas casas" demora bem mais do que parecia na época da campanha.

Não é motivo para deixar de votar em nenhum dos dois. Mas já que os candidatos não tomam jeito, é necessário que nós, eleitores, tenhamos juízo, sabendo que ninguém terá como transformar o país de uma hora para outra. Como disse Obama, nada vai acontecer do dia para a noite.

Somos uma democracia jovem. Exceto por quem já tem 70 anos ou mais, e que pode ter votado em Jânio ou Juscelino, nós todos participamos de, no máximo, seis eleições presidenciais. Mas já temos experiência suficiente para saber que é a soma dos mandatos, o acúmulo do tempo, a alternância de projetos que vai nos levando a algum lugar.

Dezessete anos atrás, nosso país era significativamente pior do que hoje. Itamar Franco derrubou a inflação. Fernando Henrique universalizou o ensino básico. Lula retirou milhões da pobreza. Isso só para mencionar uma realização importante de cada um. O próximo mandato terá de dar sua contribuição também.

Mas caberá a nós saber que não estamos elegendo um salvador da pátria. É o próximo presidente. Não é pouco, mas é só isso. O país continuará, e nós é que teremos de levá-lo à frente, inclusive cobrando que as melhoras venham e que as boas promessas (quando as há) não caiam no esquecimento. No fim, é o que Obama disse. Não vai acontecer da noite para o dia. Mas, sim. Nós podemos.

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