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Os gastos com a Copa do Mundo estão estimados em pelo menos R$ 27 bilhões. E acho que poucas pessoas têm dúvidas de que a conta vai subir ainda mais. Afinal, as revisões, nesse caso, são sempre para cima, nunca para baixo. É exatamente o oposto do que acontece em certas áreas do orçamento brasileiro: as revisões são sempre para diminuir o pouco que já existe. Caso da ciência, por exemplo.

Como sempre, a ciência brasileira foi vítima, neste ano, de mais um contingenciamento do governo federal. A previsão inicial era colocar R$ 6,7 bilhões no setor. Mas já em fevereiro o Planalto mandou avisar que iria cortar fundo: reduziu o valor em quase R$ 1,5 bilhão. Com isso, sobraram R$ 5,2 bilhões. O que, definitivamente, para o tamanho e o potencial do país, não é muito. E é menos do que o que havia em anos anteriores. Em 2010, eram R$ 7,4 bilhões.

A própria abertura da Copa é um exemplo de como o país poderia investir um pouco menos em outras áreas e um pouco mais em ciência. Veja só: um grupo de pesquisadores, liderados por um brasileiro, Miguel Nicolelis, está trabalhando duro para conseguir um feito absolutamente revolucionário. Prometem fazer paraplégicos e tetraplégicos voltarem a andar. Para isso, precisam de tempo e dinheiro para sua pesquisa. Só.

A ideia é a seguinte: eles conseguiram fazer com que máquinas atendam a comandos do cérebro, diretamente. Ou seja: um sujeito que perdeu o movimento do músculo da perna poderá dar um comando igual ao que dava antes. E, ao invés de sua perna, quem atenderá a ordem á um "exoesqueleto" metálico. Uma espécie de armadura ligada ao corpo que dará a ele todos os movimentos que um dia já teve.

O sonho de Nicolelis é fazer a demonstração de seu projeto na abertura da Copa de 2014, no Brasil. Um adolescente entraria em campo na data do primeiro jogo, em 13 de junho, para dar o pontapé inicial da partida. Seriam seus primeiros passos depois de voltar a andar. Nicolelis garante que isso é possível. E não é pouco: o cientista já foi incluído pela revista Scientific American num grupo de 20 pesquisadores que podem mudar o futuro da humanidade.

Em julho de 2011, faltando três anos para a Copa, Nicolelis se reuniu com Dilma Rousseff e o então ministro da Ciência, Aloizio Mercadante. Eles acharam a ideia boa, ficaram de ver. Em fevereiro deste ano, um semestre depois, Nicolelis deu entrevista ao Fantástico dizendo que precisava de uma definição clara do governo. Mais um semestre se passou: faltam dois anos para a Copa, e ainda nada.

Um dos motivos que se alegam para que o Brasil gaste uma fortuna para fazer a Copa do Mundo por aqui é que, com isso, mostraríamos nosso potencial para o planeta. Pergunta: o que impressionaria mais seria nossa capacidade de fazer estádios ou a conquista de devolver o movimento a quem não podia mais andar? O próprio Nicolelis, aliás um admirador de Dilma, já disse que seu projeto custa uma fração do estádio do Corinthians onde será aberta a Copa.

Mas o governo não tem nem mesmo mantido o orçamento básico da ciên­­cia. Assim, o sonho de passarmos para o primeiro mundo da pesquisa vai ficando para trás. Sem falar no sonho de quem perdeu o movimento e quer poder andar de novo.

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