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Demorou um pouco, mas saiu. O relatório final da perícia do polêmico prédio anexo ao Palácio da Justiça, em Curitiba, ficou pronto. Para quem não lembra, desembargadores do próprio Tribunal de Justiça colocaram sob suspeita a construção do edifício, que custou a bagatela de R$ 48 milhões. O prédio tem 28 mil metros quadrados. Como se imagina que uma obra, mesmo cara, saia por R$ 1 mil o metro quadrado, havia suspeita de superfaturamento de até R$ 20 milhões.

O laudo assinado pelos técnicos da Universidade Federal do Paraná faz acreditar que o problema é bem menor. O erro de orçamento seria de 3% do valor da obra. Ou seja, algo em torno de R$ 1,5 milhão. Corrupção e superfaturamento estariam descartados, afirma o professor Mauro Lacerda, diretor do Setor de Tecnologia da UFPR e responsável pelo time que fez a inspeção. Mas erros e problemas foram detectados – e em grande medida.

Entre os defeitos estão pontos básicos. Um ar-condicionado moderníssimo foi colocado no prédio, por exemplo. Só que ninguém ensinou os funcionários a usá-lo. Resultado: o equipamento milionário não serve para muita coisa. Outra: a construtora e a fiscalizadora não forneceram a ninguém os desenhos de como o prédio foi construído realmente. Como o projeto original, de acordo com a UFPR, estava repleto de erros a serem corrigidos, ninguém tem um documento mostrando como as correções foram feitas. Só há o projeto original, que a essas alturas vale pouco, quase nada.

Mas não é só isso. Quem entende de engenharia afirma que o prédio não vai custar nem de longe "apenas" os R$ 48 milhões divulgados até aqui. Um prédio público, ensina o discreto Mauro Lacerda, é feito para durar no mínimo 50 anos. E a manutenção custa cerca de 3% do total investido. Ou seja: a cada 12 meses, o anexo do Tribunal de Justiça consumirá do erário algo em torno de R$ 1,5 milhão. Em 50 anos, R$ 75 milhões.

Se fosse mais barato, o prédio teria uma manutenção mais simples. Mas o Judiciário preferiu o luxo. Alto luxo. Tudo o que foi colocado no prédio é do bom e do melhor. Não houve corrupção, diz a UFPR. Ok. Mas, no mínimo, os desembargadores deveriam cuidar um pouquinho mais do suado dinheiro público.

E o detalhe

A propósito, e só para encerrar o assunto, os técnicos da UFPR dizem que não acharam nem "habite-se" nem documentos comprovando que houve inspeção do Corpo de Bombeiros no Anexo, que já está sendo usado há dois anos. Pode?

É sacanagem

O Ministério da Cultura aprovou a captação de R$ 3,9 milhões para a produção de um filme sobre Bruna Surfistinha, a mais famosa prostituta brasileira. "O Doce Veneno do Escorpião" ganhou o aval do governo, já publicado em Diário Oficial, e deve enfeitar as telas nacionais em breve. Tudo com dinheiro do contribuinte. Depois, quando dizem que no Brasil se faz sacanagem com o dinheiro do povo tem gente que acha que é só jeito de falar. Não é, não. Agora, é literal.

Mais um anexo

E quem se indignou com o excesso de gastos no Anexo I (foto), pode se preparar: vem aí o Anexo II. O próximo "puxadinho" do Palácio da Justiça já teve a construção aprovada pela prefeitura de Curitiba. E logo deve sair do chão. A idéia é acomodar no mesmo complexo todos os 120 desembargadores. A fusão do Tribunal de Justiça com o Tribunal de Alçada é que exigiu mais gabinetes. Curioso é que na época da construção do primeiro prédio já se imaginava que a fusão estava próxima. Ao invés de fazer um prédio maior – e diminuir os gastos – o Judiciário preferiu gastar duas vezes. É isso aí.

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"Alguns repórteres disseram que não tenho qualquer visão. Eu não vejo isso."

George Bush, ex-presidente e pai do igualmente brilhante presidente dos EUA George W. Bush.

rgalindo@gazetadopovo.com.br

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