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Há vários jeitos de se evitar que uma sociedade seja corroída pela corrupção de homens pú­­blicos. Um deles, o melhor, claro, é que a população eleja pessoas de boa vontade, que não vão cair na tentação de levar para a conta bancária o que não lhes pertence. Isso, no entanto, nem sempre acontece. Os eleitores insistem em errar, especialmente no Legislativo, que ganha menos atenção na hora do voto.

Se o eleito tivesse a intenção de fazer o que a lei proíbe, deveria ser impedido, imediatamente, pelos seus pares. Parlamentares têm, entre outras atribuições, a responsabilidade de evitar que outros políticos, sejam do Legislativo ou do Executivo, metam a mão no dinheiro de nosso imposto.

Na verdade, se isso falhasse, deveria haver ainda uma outra barreira, formada pelas autoridades que fazem a fiscalização. Numa democracia perfeita, por exemplo, caso os eleitores insistissem em manter na Assembleia políticos com más intenções, o Ministério Público e o Tribunal de Contas deveriam estar em cima, vendo e revendo os números para garantir que estava tudo certo.

No caso da Assembleia Le­­gislativa do Paraná, tudo isso falhou miseravelmente. A população, apesar de vários alertas, continua elegendo políticos que mantêm uma política paternalista, clientelista, patrimonialista e que têm como única finalidade aumentar o próprio poder. Com que propósitos, sabemos todos.

Os deputados, num corporativismo sem limites (com raríssimas, quase singulares exceções), escondem o problema e jogam para debaixo do tapete a sujeira uns dos outros. E, durante décadas, promotores e conselheiros parecem ter feito vistas grossas ao que acontecia nas dependências do atual Centro Legislativo Aníbal Khury.

Tudo falhou. Exceto pela sociedade. Porque essa é a verdadeira beleza de uma democracia. O poder emana do povo e por ele é exercido. Ou, traduzindo para a vida real, no caso da Assembleia: quando todas as pessoas investidas de autoridade para isso falham em nos proteger, nós, cidadãos co­­muns, podemos tomar as rédeas e fazer as coisas voltarem a seu devido curso.

Foi o que fizeram os quatro re­­­­pórteres que nas últimas duas se­­­­manas receberam o Prêmio Em­­­bratel de Jornalismo Investiga­tivo e o Prêmio Esso de Jornalismo. Sem terem recebido mandato dos eleitores, mas com cidadania correndo nas veias, foram atrás das histórias que, convenhamos, todos nós imaginávamos existir no Centro Cívico do Paraná, mas que ninguém havia até hoje conseguido provar.

Trabalharam muito durante dois anos. Correram e cansaram. Mas receberam nesta semana a devida recompensa. É isso que os prêmios dados à Gazeta do Povo e à RPC TV querem dizer. Que o jornalismo fez sua parte de ser os olhos da sociedade no momento em que todos os demais fechavam os olhos para a corrupção.

Aos céticos, que dizem nada ter mudado, já que os deputados continuaram se reelegendo, há várias respostas a ser dadas. A legislação se tornou mais dura. Três ex-diretores foram presos e respondem na Justiça. O esquema foi desarticulado. Mas, principalmente, a sociedade se mobilizou, tomou em suas mãos o poder que de fato sempre foi e sempre deve ser seu.

É um alento ver funcionar na prática o que o presidente dos EUA, Barack Obama, dizia em sua campanha: "Sim, nós podemos". Quatro jovens integrantes de nossa sociedade acabaram de mostrar isso.

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