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Às vezes, acontece. Alguma voz consegue trazer a razão de volta à discussão, quando tudo parece estar indo na direção contrária. Foi o que aconteceu nesta semana em nossa terrinha. E foi bom que acontecesse, antes que um momento único na nossa história se perdesse e a chance de mudar parte importante de nossa política fosse ralo abaixo.

As denúncias contra a As­­­sembleia Legislativa do Paraná, feitas nas últimas semanas pela Gazeta e pela RPC TV são seríssimas. Disso ninguém duvida. E mexeram com a população: difícil achar alguém que não esteja indignado com as situações descobertas. Mas a seriedade das denúncias e a indignação popular não são suficientes para resolver os problemas: é preciso que as investigações sejam feitas até o fim pelas autoridades. E todos os culpados descobertos e punidos. Todos, sem exceção.

Mas por um momento pareceu que as coisas tomariam caminho diferente. O convite da Assembleia Legislativa para que o Tribunal de Contas e o Ministério Público participassem da investigação sobre os diários secretos e sobre todos os indícios de falcatruas lá encontrados poderia parecer inocente. Poderia dar a entender que a direção da Assembleia estava simplesmente mostrando seu real interesse em descobrir tudo o que houvesse de podre no Centro Cívico.

Não é assim. E por sorte o promotor Fuad Faraj veio a público mostrar que isso poderia nos levar a uma farsa. E a uma farsa perigosa. Como poderia o Ministério Público, responsável em última instância por levar quaisquer desvios dos deputados à Justiça, investigar o caso a sério e a fundo se fizesse uma parceria... com os deputados?! Bem disse o promotor: o presidente Nelson Justus não é o investigador nesse caso. É suspeito.

Ninguém quer declarar ninguém culpado por enquanto. Até o momento, nem mesmo Abib Miguel, o diretor-geral afastado como principal suspeito de comandar os esquemas de supersalários e de ocultamento de diários na Assembleia, pode ser considerado culpado. O presidente Nelson Justus também não. Nem pode ser considerado culpado por nada o deputado Alexandre Curi, responsável pela primeira-secretaria. Mas todos são, e têm de ser assim, suspeitos.

Seria muito cômodo se, a cada vez que acontecesse um problema na administração pública, os políticos eleitos pelo povo pudessem ser inocentados simplesmente colocando a culpa nas pessoas que contrataram para prestar serviços. E, na verdade, isso tem se tornado moda no Brasil em tempos recentes. O presidente Lula não sabia nada sobre o mensalão. O prefeito Beto Richa não sabia nada sobre o comitê Lealdade, que fazia parte de sua campanha.

Justus é o presidente da As­­­sembleia. Era o patrão de Bibinho. Alexandre Curi é responsável por parte importante da gestão do orçamento do Legislativo. Como pode ter acontecido que eles não soubessem de nada, de rigorosamente nada, dos fatos que aconteciam à frente de seus olhos? Caso os fatos sejam comprovados, eles têm duas opções: ou são culpados ou são péssimos gestores públicos, incapazes de ver um desvio milionário no orçamento que comandavam.

Que se investiguem os fatos. Que se investiguem os deputados. Sindicância interna pode ser, no máximo, uma mostra de boa vontade. Mas quem tem de dar respostas a essa altura são outras instituições, trabalhando de maneira independente. Salve o promotor Fuad Faraj. Alguém falou o que precisava ser dito.

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