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Democracia tem dessas coisas. O sujeito vota na Dilma e acaba, indiretamente, colocando o Pedro Novais no Ministério do Turismo. Achou que estava votando na candidata que prometia moralização e contribuiu, ainda que sem querer, para dar um cargo de primeiro escalão a um deputado que acha normal pagar a conta do motel com dinheiro público.

Imagina-se que muitos eleitores de Dilma estejam indignados. Gostariam de ver a presidente estrilando com a indecência de seu comandado. Mas o que o cidadão acaba sabendo é que o caso será relevado. E todos sabem por que: o governo do PT, assim como os outros que lhe antecederam, acredita que não é possível ter só gente ética no governo. É preciso acolher os indicados pelos reizinhos das oligarquias regionais. Nesse caso, traduzindo, é preciso agradar a José Sarney e ponto.

E o sujeito que votou em Beto Richa? Tinha toda a certeza de que estava votando num político que havia rompido com o lernismo. Beto, afinal, garantia isso com todas as letras desde sua campanha para prefeito, em 2004. Sua rusga com Cassio Taniguchi, o antigo secretário de Planejamento de Lerner, era um símbolo de que Beto representava o novo.

Quem diria que um dos primeiros atos de Beto como governador eleito seria chamar o mesmo Taniguchi para ser seu secretário? E justamente secretário do Planejamento, na mesma função que ele exercera sob Lerner? Estranho foi também ver Richa convocar o líder do governo Requião na Assembleia; ou o secretário da Fazenda do governo de Alvaro Dias; sem falar no antigo secretário de Comunicação do próprio Lerner. Beto se elegeu prometendo um "jeito novo" de governar. Mas democracia, como se sabe, tem dessas coisas.

Em Luciano Ducci, na verdade, ninguém votou. O vice só assumiu porque o titular achou mais interessante ser candidato ao governo do que marcar passo no posto em que os curitibanos o tinham colocado (sob a promessa de que ficaria os quatro anos, lembre-se). Mas poderia se imaginar que um homem de origem técnica, como Ducci, evitaria os velhos vícios da política brasileira. Pois é.

Em duas semanas, quando chegou a hora de renovar seu secretariado, Ducci fez a festa do nepotismo. Nomeou a própria mulher para a FAS, num nepotismo direto; e pôs dois parentes do padrinho político, Beto Richa, no primeiro escalão, no típico exemplo de nepotismo cruzado. A primeira nomeada, para a Fundação Cultural, foi Maria Cristina Andrade Vieira, a tia da futura primeira-dama estadual Fernanda Richa. Já ao nomear Marcello Richa secretário de Esportes, garantiu que a terceira geração da família receba vencimentos do erário.

E assim se fragiliza a nossa democracia. Por mais que tenhamos opção na hora de escolher os governantes, eles dizem que não as têm na hora de formar seu ministério; ou agem da mesma maneira que os antecessores, mesmo quando prometeram fazer diferente; ou aprendem os velhos truques e desvios em nome da futura reeleição. E nós? Nós que esperemos quatro anos. Para ver se aparece alguém com coragem de enfrentar o fisiologismo, o corporativismo, o patrimonialismo. Porque, ao que tudo indica, dessa vez é que não vai ser.

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