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Há momentos que marcam a vida de um ho­­mem público. O deputado Nelson Justus vi­­veu um desses na tarde de ontem. No início da sessão da Assembleia Legislativa, ele assumiu o microfone e começou a falar. Era o que todos esperavam – afinal, ele está no centro de um escândalo gigantesco. O escândalo dos diários secretos revela não só a falta de transparência do nosso Legislativo. O trabalho brilhante da reportagem da Gazeta e da RPCTV mostra que, por trás do que poderia parecer uma simples omissão, há muito mais. Há indícios de corrupção, desvio de dinheiro e fraude.

Justus se negou a dar entrevistas. Mas de seu castelo – a mesa da presidência da As­­sembleia – onde ninguém poderia interrompê-lo ou fazer perguntas indiscretas, falou. Disse que abriu uma sindicância para investigar o caso – e essa foi a boa notícia. E seu discurso foi revelador. Especialmente por uma frase que disse aos demais deputados no plenário. Do centro do furacão, Justus pediu aos deputados... que fiquem tranquilos. E a pergunta que deve ser feita é: como assim, tranquilos? Quem poderia ficar tranquilo numa hora dessas?

Imagine o leitor que está numa situação especial: no cargo que ocupa, é responsável por milhões de reais. Dinheiro público, pago com esforço pelo contribuinte. Dinheiro que faz falta em outras áreas – num estado em que crianças estudam em salas de aula mofadas e em que não há verba para fazer exames em funcionários públicos, aquele dinheiro que passa por sua mão poderia fazer a diferença.

De repente, alguém vem e mostra a você, com provas, fatos e documentos, que parte desse dinheiro – parte importante – pode estar sendo usada de maneira ilícita. Mostra que alguns de seus pares podem estar aproveitando a situação em que se encontram para lesar os cofres públicos. Garante a você que há gente sendo usada como laranja nesse esquema – e ainda lhe mostra a foto, a voz e o depoimento dessas vítimas de seus colegas.

A pergunta é: o que você, leitor, faria, se estivesse nessa situação? Diria a todos os seus colegas, que podem estar envolvidos em atos seríssimos de corrupção, que fiquem tranquilos? Ou, pelo contrário, cobraria que eles ajam, que descubram o que está acontecendo? O papel de alguém que não soubesse de nada, que fosse um inocente nessa história, não seria o de estrilar, de gritar a plenos pulmões? Não seria o caso de dizer: "O que vocês fizeram?"

Justus, lamentavelmente, disse a seus colegas que fiquem tranquilos. O que quer dizer isso? Que Justus não acredita em nenhum dos indícios que foram mostrados a todo o país? Que ele sabe, de antemão, que tudo foi feito licitamente? Não seria seu papel investigar um pouco que fosse, ao menos, antes de pedir tranquilidade?

Tudo o que está sendo revelado agora aconteceu justamente porque os deputados estaduais paranaenses sempre estiveram tranquilos demais. Se cometessem um deslize – para ficarmos na possibilidade menos grave – provavelmente ninguém ficaria sabendo. Nem mesmo os diários oficiais da Assembleia os denunciariam. As coisas mudaram.

Não é hora de os deputados ficarem tranquilos. É hora de eles ficarem tensos. Os que devem algo, porque terão de pagar por isso. Os que não devem, porque devem se indignar e se esforçar para que a justiça seja feita. Tranquilidade? Não, presidente Justus. Não é hora.

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