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Já se disse que governadores, no Brasil, são como "superpresidentes" locais. Dentro de sua área de atuação, podem tudo, ou quase tudo. Ou, pelo menos, podem muito mais do que a descrição clássica da função poderia fazer imaginar. Quer ver? Pense no governador eleito, Beto Richa. Em teoria, ele será responsável pelo Exe­­­cutivo estadual e nada mais. Mas as coisas não são bem assim.

Um chefe de Executivo local deveria nomear apenas secretários de Estado. Mas Beto, por exemplo, começou "nomeando", indiretamente, claro, o presidente da Assembleia Le­­gis­­lativa. Claro, como o Legislativo é um poder independente, a coisa não acontece assim, com texto no Diário Oficial e assinatura do governador. Mas todo mundo sabe que o deputado Valdir Rossoni, antigo aliado de Richa, foi escolhido a dedo pelo governador para comandar a Casa.

Mas não é só pela presidência que se vê como Beto deve, indiretamente, comandar a Assembleia pelos próximos quatro anos. O patético jogo de vira casaca do PMDB, que não aguentaria ficar longe do poder e de suas benesses, mostra que todos (ou quase todos) os deputados farão tudo (ou quase tudo) para ficar ao lado do governo. Tudo para ganhar uma Secretaria de Estado, um carguinho secundário na Mesa da Assembleia. Richa soube usar seu poder para atrair os desesperados, que não hesitaram nem por um momento em abandonar o antigo barco.

No outro órgão do Legislativo estadual Beto também terá grande influência. O Tribunal de Contas terá três (ou quatro) conselheiros renovados durante o governo de Beto. Ou seja, o governador apontará, quem sabe, mais da metade dos responsáveis por julgar as contas públicas no Paraná. É claro que, pela regra, apenas um terço das indicações caberá ao Executivo. Mas sabe-se de longa data que o terço destinado à Assembleia virará, como sempre virou, cota do governador, igualmente – foi o caso do irmão do ex-governador Roberto Requião, Mau­­rício, escolhido, em tese, pelo Legislativo estadual. Só alguma vaga destinada a técnicos, se houver, não terá influência do governo do estado.

O poder do governador acaba extrapolando o próprio Centro Cívico também. No ano que vem, por exemplo, haverá eleição na Federação das Indústrias, a Fiep. E já se sabe desde o fim da eleição que Beto teria candidato para ocupar mais esse espaço de poder. É Ricardo Barros, que já foi colocado estrategicamente na Secretaria de Indústria e Co­­mércio, justamente para se fortalecer no caminho para a eleição.

Isso sem contar a óbvia in­­fluên­­­cia que Richa exerce sobre a prefeitura de Curitiba. Reeleito em 2008, abandonou o cargo para disputar o governo do estado. Mas deixou em seu lugar, para completar o mandato um vice fiel, Luciano Ducci. A ligação entre os dois é tão grande que Ducci cedeu meia equipe ao novo governador. E, na hora de repor os secretários, escolheu a tia de Fernanda Richa para a Fundação Cultural de Curitiba.

Não há nada de muito novo nisso. Todos os governadores anteriores tiveram domínio so­­­bre outros poderes, e fizeram questão de exercê-lo. Mas a má notícia é justamente essa. Para alguém que prometeu inaugurar "um jeito novo de governar", Beto Richa está parecido demais com os que lhe antecederam. Espantosamente parecido.

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