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O governador Beto Richa completa amanhã 100 dias do seu segundo mandato – momento clássico para o primeiro balanço e também para esboçar (se possível!) o que os paranaenses podem esperar para os 1.360 dias que faltam para o término da gestão.

Estes pouco mais de três meses já transcorridos desde a posse são, de fato, tempo demasiadamente diminuto para que dele se exijam grandes realizações – mas já foi longo o bastante para que se produzissem lambanças de bom tamanho e muito raras na história do Paraná.

Os arquivos mostram que o segundo mandato de qualquer governante dificilmente consegue ser melhor que o primeiro. Tivemos Moysés Lupion como governador por duas vezes (1947 a 1951 e de 1956 a 1960), assim como, por duas vezes, o estado foi governado por Ney Braga (1961/64 e 1979/82) e Jaime Lerner (gestões consecutivas de 1995 a 2002). Roberto Requião é o recordista, com três mandatos: o primeiro de 1990 a 1994 e os dois últimos, consecutivos, de 2003 a 2010.

Os mais velhos – ou aqueles que queiram consultar livros de história – se lembram ou podem ficar sabendo que o Lupion do primeiro mandato deixou marcas importantíssimas para o Paraná, com obras ainda hoje visíveis pelo estado afora. Já o segundo mandato...

Com Ney Braga não foi diferente. Excelente na primeira gestão, apenas regular na segunda. Para Lerner o Paraná deve, em sua primeira temporada, uma virada importante no rumo da industrialização e a melhoria da infraestrutura rodoviária (apesar da escorchante tarifa do pedágio). Já na segunda deixou a herança da privatização do Banestado e sua dívida impagável.

Requião só foi novidade nos anos 90, quando criou e deu prioridade a programas sociais de reconhecidos méritos, mas se tornou repetitivo e nada inovador nas duas administrações que comandou na primeira década dos anos 2000.

Com Beto Richa a história não se repetiu: foi mal já no primeiro mandato (culpa de perseguições políticas, segundo repete até hoje) e cumpre os primeiros 100 dias do segundo sofrendo os horrores financeiros que legou a si mesmo.

Os historiadores terão muita dificuldade para enumerar feitos importantes nos quatro anos iniciais de Richa. Não só por ausência de obras como, sobretudo, por não ter aberto horizontes estrategicamente palpáveis e definidores do futuro. Aqui ou acolá, entre realizações pontuais e de pequena monta, registram-se meritórias contratações de policiais ou de professores, assim como atualizações salariais que favoreceram algumas categorias de servidores.

Mas o que de mais notável sobrou foi a desorganização das finanças estaduais e dívidas, muitas dívidas – de salariais com o funcionalismo a milhares de outras contraídas junto a pequenos fornecedores.

Por isso, em razão dos desacertos acumulados nos quatro anos anteriores, o quatriênio iniciado há 100 dias nasceu sob o signo de “pacotaços” tributários e de medidas erráticas tanto do ponto de vista técnico quanto do político. O que se viu até agora: aumento do ICMS para 95 mil itens de consumo; aumento abusivo do IPVA; tentativa de tungar na “marra” recursos da previdência dos servidores, etc. etc.

Pior: passaram a ser revelados problemas de ordem ética que já grassavam impunes e não contidos no primeiro mandato, dentre os quais o que envolveu o primo Luiz Abi, poderoso frequentador de gabinetes palacianos, em rumoroso caso de fraude em licitação. Sem falar dos desvios milionários de recursos públicos descobertos pelo Gaeco na Receita Estadual, nos quais se constatou a participação de amigos muito próximos do governador.

Emblemáticas, também, neste início de segundo mandato, foram a greve que paralisou as escolas estaduais e outros setores públicos e as manifestações de protesto que eclodiram defronte o Palácio Iguaçu e a Assembleia Legislativa.

A falta de habilidade política – ou o excesso de confiança no próprio “taco” – culminou no fiasco do “camburão” cedido pelo secretário da Segurança, para dentro do qual foram empurrados os deputados situacionistas que votariam o “pacotaço”. Uma vergonha da qual o governo e a Assembleia não se recuperarão tão cedo.

Apesar de tudo, Richa mantém a promessa: “o melhor está porvir”. Ótimo: tomara que o pior já tenha acabado e que, de fato, os próximos 44 meses de 20 dias que restam do mandato sejam preenchidos apenas por boas notícias. O Paraná não merecia os 100 dias que já teve. Foi muita lambança para tão pouco tempo.

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