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Celso Nascimento

A lição de Ivo Arzua

A morte do ex-prefeito de Curitiba, Ivo Arzua Pereira, anteontem, evoca uma lembrança inevitável: a cidade deve a ele os fundamentos que, seguidos mais tarde por alguns de seus sucessores, a tornaram referência mundial em planejamento urbano. Esta afirmação ganha sentido quando se recorda que, como prefeito eleito no início dos anos 60, Arzua foi o fundador do Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) e ali reuniu jovens arquitetos para pensar a cidade – dentre eles Jaime Lerner, Lubomir Ficinski, Rafael Dely, Carlos Ceneviva, dentre tantos outros nomes de cujas pranchetas nasceria o modelo-exportação de criatividade em soluções urbanísticas.

Engenheiro tocador de obras, bem antes de se eleger prefeito foi um dos responsáveis pela construção do Palácio Iguaçu e do Centro Cívico – num período em que a cidade ainda achava que poderia seguir as linhas do planejamento traçado pelo arquiteto francês Alfred Agache, contratado no início dos anos 40 pelo interventor Manuel Ribas.

Arzua percebeu que Curitiba precisava ir mais além do que a visão urbana europeia que Agache trouxe para Curitiba. São do arquiteto francês, por exemplo, o projeto do Centro Cívico, a localização do Centro Politécnico e as monumentais avenidas Visconde de Guarapuava, Sete de Setembro, Iguaçu. Anos depois, a cidade em crescimento acelerado e as realidades sociais já bem diferentes mostravam que Curitiba precisava de uma outra concepção de organização e desenvolvimento urbano.

Foi o primeiro prefeito a chamar a população a debater a cidade nas reuniões que promovia em cada bairro. E foi dele também a iniciativa de contratar a empresa Serette, do arquiteto paulista Jorge Wilhelm, para propor um novo modelo – detalhado em seguida pelo recém-fundado Ippuc e executado por Jaime Lerner e alguns (nem todos) dos prefeitos que o sucederam.

Daí nasceu, por exemplo, o conceito do transporte coletivo como indutor do crescimento organizado da cidade, de onde surgiram as vias exclusivas para o tráfego dos ônibus, os binários com vias rápidas e tantas outras inovações que prepararam Curitiba para o que ela ainda tem de bom nos dias de hoje.

Visão estratégica

Os candidatos que neste ano disputam a cadeira que um dia foi de Ivo Arzua precisam dar demonstrações mais efetivas de que pensam "tão grande" quanto ele. Precisam demonstrar ser possuidores de visão estratégica, isto é, de ser capazes de pensar o futuro da cidade, de prepará-la para o que há de vir e até de encontrar novas vocações.

Não basta propor a criação de novas creches, de construir hospitais e postos de saúde, de falar em asfaltar ruas e melhorar a iluminação... Claro que nada disso deve ser descuidado – mas isto faz parte do movimento inercial de qualquer cidade e da rotina de qualquer prefeito mediano, mais interessado na futura eleição do que no futuro da cidade.

Tem sido difícil observar na atual campanha candidatos que aproximem sua pregação a temas mais profundos, abrangentes e de longo prazo do que aqueles que acreditam ser apenas mais eficazes para caçar votos. E estes, certamente, não bastam para uma cidade que já teve Ivo Arzua Pereira como prefeito.

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