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O prefeito Rafael Greca começa a cumprir a partir desta segunda-feira uma das promessas mais marteladas durante sua campanha – a de que iria restaurar a reintegração do transporte metropolitano assim que fosse eleito. E, de fato, neste seu 23.º dia de gestão volta a funcionar a linha Colombo-CIC, permitindo aos passageiros que embarcam no vizinho município de Colombo percorrer 26 quilômetros até a Cidade Industrial de Curitiba sem precisar trocar de ônibus. E vice-versa.

Trata-se ainda de uma medida “meia-sola”, apenas física, já que não atende à principal premissa que caracteriza uma reintegração de verdade – isto é, com tarifa única. Quem embarca em Colombo usa o cartão Metrocard, pagando R$ 3,80 pela passagem. Na volta, usa o Cartão Transporte da Urbs, a R$ 3,70.

Quando a reinteragração será completa? Ainda não se sabe. O que existe é um protocolo de intenções entre a prefeitura e o governo estadual para “estudar” uma forma que garanta não apenas a integração física, mas também tarifa única para todo o sistema. Greca promete que até o “horizonte” de julho tudo esteja pronto e funcionando para a região metropolitana inteira.

Seja como for, já pode tocar o “bumbo” de que sua ligação com Beto Richa já começou a dar bons resultados. A promessa de reintegração foi de ambos, servindo principalmente aos projetos político-eleitorais do governador, que precisa reconquistar Curitiba, maior colégio eleitoral do estado e vital para garantir a almejada cadeira de senador em 2018.

Não é de hoje que Richa trata o transporte coletivo como instrumento para suas ambições. Quando vice do prefeito Cassio Taniguchi, no início de 2004 aproveitou o exercício de uma interinidade para baixar a tarifa e provocou — por alguns meses — a primeira desintegração do transporte metropolitano. Embora a redução tenha durado pouco, a coragem de fazê-lo o consagrou como candidato natural à sucessão de Cassio na eleição daquele ano. Eleito, manteve a passagem congelada, reelegendo-se em 2008 com 77% dos votos. De quebra, cacifou-se para concorrer ao governo em 2010.

Já governador, quis eleger prefeito o seu vice, Luciano Ducci. De novo, recorreu à “mágica” de usar o transporte coletivo para facilitar a caminhada do aliado. Para evitar que Ducci tivesse de decretar um desgastante aumento real da passagem em ano eleitoral, Richa passou a usar dinheiro do estado para subsidiar o sistema.

Desta vez não deu certo: Ducci foi derrotado já no primeiro turno e Gustavo Fruet eleito no segundo. Richa, então, suspendeu o subsídio, o que levaria o sistema metropolitano a experimentar a segunda desintegração em sua história. Os subsídios estaduais negados à Urbs foram redirecionados às empresas metropolitanas, que ganharam a vantagem suplementar de aumentar as próprias tarifas e de controlar (sem fiscalização) a bilhetagem.

Aguarda-se para breve outra decisiva participação de Beto Richa. Como acontece todos os anos, fevereiro é o mês do reajuste dos ônibus de Curitiba. As empresas sinalizam que o “ideal” seria um aumento dos atuais R$ 3,70 para R$ 4,50, valor que lhes daria margem para a renovação da frota exigida por Greca e para a recuperação das perdas que teriam sofrido ao longo dos quatro anos de conflituosas relações com a administração Fruet.

Rafael sabe – e já disse isso – que “não há missa sem vela e vela custa caro”. Mas um aumento abrupto de mais de 20% não seria bom para os planos de Richa de reconquistar a simpatia do eleitorado curitibano, do qual ele amarga, atualmente, mais de 70% de rejeição.

Portanto, não é de se estranhar a possível volta do subsídio para Curitiba, seguida de outro tanto para garantir a reintegração total do sistema no “horizonte” de julho anunciado por Greca.

É esperar para conferir como dinheiro e serviços públicos podem ser usados em favor de interesses políticos pessoais.

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