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A coluna se referiu ontem à hipótese de a engenheira florestal Elma Romanó estar sendo vítima de uma armação. Ela teve sua prisão temporária decretada pela Justiça a pedido do Ministério Público por sugestão da Polícia Civil, sob a acusação de que seria responsável por autorizações criminosas para desmatamentos na região dos Campos Gerais à época em que chefiava o escritório regional do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em Ponta Grossa.

A desconfiança quanto à armação procede do fato de que foi Elma Romanó quem denunciou funcionários de sua própria repartição, policiais da Força Verde e proprietários rurais como autores dos delitos. Levou o caso aos seus chefes imediatos, à Polícia Federal, ao Ministério Público e, dada à falta de providências, ao próprio governador Roberto Requião. Sua última reafirmação das denúncias ocorreu no dia 12 de junho, quando pediu demissão. Já não agüentava receber ameaças de morte, o que a obrigou a usar colete à prova de bala até para comparecer ao trabalho.

Soa estranho, portanto, que alguém que tenha feito tantas e tão repetidas denúncias seja também autora dos mesmos crimes que denunciou. Daí a principal razão de se suspeitar de que tenha mesmo sido vítima da hipotética armação.

Ademais, Elma Romanó não é a primeira pessoa neste governo punida por denunciar irregularidades. O caso mais emblemático foi o do ex-diretor técnico do Porto de Paranaguá, engenheiro Leopoldo Campos, que ousou escrever a Requião relacionando suspeitas de corrupção na autarquia. Foi sumariamente demitido cinco dias depois!

E o mais recente foi protagonizado na terça-feira pela diretora administrativa da Ceasa, Sandra Turra, que pediu demissão após recusar-se a inocentar membros da diretoria anterior acusados de malfeitorias na gestão da empresa.

Apesar disso tudo, a Assembléia ainda tem a coragem de aprovar projeto probindo denúncias anônimas!!!

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Armações ilimitadas 2

A Polícia Civil não gostou de ler a hipótese da armação e enviou nota de protesto à coluna. No primeiro parágrafo, diz: "As afirmações que Elma Romanó, presa em cumprimento a mandado judicial, seria vítima de ‘armação’ questionam e desqualificam o trabalho de dois respeitáveis órgãos – além da Polícia Civil – que são o Ministério Público Estadual e o Poder Judiciário".

A nota termina afirmando: "Suspeitar de ‘armação’ no caso do envolvimento da presa Elma Romanó é colocar em dúvida as ações tanto da equipe qualificada da Polícia Civil que conduziu as investigações como também do Ministério Público, que emitiu parecer favorável, e do Poder Judiciário, que concedeu os mandados de prisão e busca e apreensão".

A coluna lamenta informar que a nota da Polícia Civil apenas reforça a desconfiança, pois revela que não soube sequer fazer leitura correta do que saiu escrito na edição de ontem: em nenhum momento se afirmou que Elma Romanó é inocente ou que a armação foi feita pela Polícia, pelo Ministério Público ou pelo Poder Judiciário. Não teria sido pelos próprios denunciados? E não é o caso de pensar que a notória deficiência de compreensão de um texto tão claro tenha também contaminado as investigações. Ou a Polícia Civil já provou sua infalibilidade?

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Uma CPI necessária

É grande o poder de resistência do governo do estado – afinal, conta com maioria esmagadora e caninamente fiel na Assembléia, capaz de barrar quase todas as iniciativas que visem a apurar fatos suspeitos que a cada dia emergem das entranhas da administração estadual.

É da tradição das democracias que os parlamentos se dividam entre situação e oposição. À primeira, cabe principalmente defender as ações programáticas do governo com o qual se alinha politicamente. À segunda, incumbe a tarefa de fazer o contraditório, apontar os erros.

A nenhuma das facções, porém, se pode admitir traições ao interesse público e ao bem comum. Devem, sobretudo, estar comprometidas com a ética e com a moralidade dos atos administrativos e com o bom emprego dos recursos públicos. Assim, nem se deve permitir que a oposição levante acusações levianas ou contrárias a esses valores, nem à situação se deve dar o direito de fechar os olhos diante de indícios ou de evidências de desvios administrativos ou morais cometidos pelo governo que apóiam.

Essas premissas deveriam agora ser levadas em consideração pelos 54 deputados da Assembléia paranaense – sejam eles de situação ou oposição – diante da proposta de instalação de uma CPI para apurar supostas irregularidades no Executivo.

É a CPI da Corrupção, destinada a investigar fatos bem definidos. Embora já discutidos quer pela imprensa quer pela própria Assembléia, não estão ainda nem de longe esclarecidos – sobretudo porque a situação tem usado de todos os artifícios regimentais e anti-regimentais para evitar a apuração. Gastos excessivos com cartões, compras superfaturadas, aditivos exagerados, repasses para ONGs – tudo isso é tema para a comissão.

A Assembléia daria uma demonstração de grandeza cívica e de compromisso com a população se aprovasse o requerimento da CPI. Mas o que esperar da situação que temos? Façamos o teste.

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"Em governos anteriores, com aquela anarquia que existia, a Perdigão havia se transferido para Itajaí."

De Requião, ontem, comemorando a volta das exportações da empresa Perdigão pelo porto de Paranaguá, mas esquecendo que, anteontem, a anarquia atual expulsou para Santos dois grandes importadores.

celso@gazetadopovo.com.br

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