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Uma das mais caras tradições políticas da democracia norte-americana é o discurso sobre o Estado da União que, todos os anos, o presidente faz no Congresso. A expectativa costuma ser enorme: afinal, é a ocasião solene do anúncio de grandes projetos ou de importantes posicionamentos frente à situação nacional ou mundial. Foi num desses discursos, por exemplo, que John Kennedy anunciou, em 1961, que os Estados Unidos levariam o primeiro homem a pisar na Lua antes do fim da década. Lincoln e Roosevelt, presidentes que governaram o país em momentos críticos, registraram nessa ocasião orações que ficaram para a história.

Não se esperava tanto do discurso de Beto Richa, ontem, na Assembleia, no início da nova legislatura. Esta também é a ocasião solene em que os governadores dão conta aos deputados (e ao povo ali representado pelos parlamentares) da situação em que encontraram o estado e expõem seu plano de governo. Seria, digamos, o discurso "sobre o estado do estado". Apesar da redução da escala em relação à grandiosidade do evento americano, citado como exemplo, esperava-se pouco mais do primeiro discurso oficial do novo governador.

É verdade que o pronunciamento teve marcas positivas, condizentes que o novo e mais animador momento político que o Paraná vive após os últimos oito anos de sobressaltos constantes. Foi possível notar, por exemplo, que o clima de confronto foi substituído pelo evidente espírito de conciliação, colaboração e participação de todos os segmentos políticos, sociais e econômicos na tarefa do desenvolvimento a que Richa quer se dedicar.

O anúncio da criação da Agên­­cia Paraná de Desenvolvi­­mento – que merecerá em breve o envio de um anteprojeto de lei à Assem­­bleia – se insere nesta linha. Segundo o resumido enunciado feito pelo governador, a agência terá o papel de promover a inovação, de buscar a modernização, a melhoria de qualidade e o aumento da produção paranaense para corrigir os rumos do estado.

Sem dúvida, uma necessidade, pois é de domínio público o que Richa descreveu no discurso: o Paraná, segundo ele, "ficou marcando o passo" nos últimos anos. Perdeu terreno, cresceu menos que a média nacional e muito menos do que seu potencial de recursos humanos, naturais e econômicos permitiria.

De positivo ficou também a anunciada intenção de recuperar o planejamento estratégico – setor em que o Paraná, em décadas passadas, já havia alcançado nível de excelência, mas que perdeu ao longo de governos em que o imediatismo eleitoreiro e/ou a política de conflitos assumiram a prioridade.

Apesar do lado crítico do discurso, Richa não esqueceu que agora o PMDB – partido do governo passado – é seu aliado. Por isso, prudentemente conciliador, o governador encontrou momento para destacar virtudes no período que o antecedeu. Assim, não só elogiou, como prometeu dar continuidade à política fiscal que privilegiou a micro e pequena empresa, bem como os programas sociais, citando especificamente o caso do "trator solidário".

De resto, ocupou-se de generalidades que não diferenciariam seu governo de outros tantos, como equipar hospitais dos médicos e aparelhos que faltam; de melhorar as estradas; de investir no Porto de Paranaguá; de reduzir as tarifas de pedágio... e assim por diante.

O governador Beto Richa ficou devendo maior profundidade. A retórica o levou a ler longo trecho do discurso de posse pronunciado pelo pai, José Richa, ao tomar posse como governador em março de 1983 – mas os paranaenses não ficaram sabendo o que seria mais recomendável no momento em que se inaugura um novo governo: faltou-lhe precisão e clareza na definição de metas.

Algo que não faltou – apenas para citar o exemplo clássico – ao presidente Juscelino Kubits­­check, que fixou metas e determinou o prazo de fazer o país crescer 50 anos em 5 no seu primeiro discurso sobre o Estado da União. Ou a Bento Munhoz da Rocha, quando se propôs a construir o Centro Cívico e integrar o estado. Ou a Jayme Canet, que prometeu (e entregou) 4 mil quilômetros de rodovias para superar a então gravíssima deficiência logística do Paraná.

Se perguntarem, com base no discurso de ontem, como será o Paraná ao fim dos próximos quatro anos, não será fácil encontrar a resposta. Será mais fácil identificar apenas as boas intenções.

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