O advogado Caio Brandão, que na juventude se aventurou também pelos caminhos do jornalismo, foi o primeiro presidente da Sanepar no início da gestão anterior de Roberto Requião, de quem era (ou é?) amigo. Em pouco tempo descobriu que o emprego não era bom e voltou para sua Minas Gerais, onde hoje, entre outras atividades, mantém um blog inteligente especializado em mostrar o quanto é fácil fraudar licitações públicas e em analisar as relações intestinas (quase no sentido literal) entre poder econômico, políticos e governos.
Ontem, ele postou um artigo muito apropriado para este momento de campanha doações de empresas para candidatos. Do alto de sua experiência, escreveu bastante, mas os trechos seguintes são imperdíveis para quem estiver interessado em saber um pouco mais sobre "o meio lodoso e escorregadio" do financiamento privado das campanhas:
- "A doação de campanha será sempre pequena para quem a recebe e muito grande para quem a entrega. O doador, no seu imaginário, fará uma conta simples: para cada real que doar, ele vai querer receber 100 mil de volta.
- Uma empreiteira de grande porte que doar, eventualmente, por exemplo, uns 8 milhões de reais [...] vai querer tomar o controle das maiores estatais do governo e executar a maioria das obras de grande porte a serem licitadas.
- Em se tratando de pagamento de fornecedores, as vias mais comuns de crimes eleitorais passam pelo pagamento feito a gráficas (são sempre as mesmas), fornecedores de papel, locação de veículos, fretamento de aviões ou uso de aeronaves de empresas amigas e agências de publicidade.
- Campanha, afinal, se faz com muito dinheiro e o ideal é que haja sobra. Esta, quando acontece, permite que o candidato eleito passe longo período pagando contas com dinheiro vivo e declarando, para o Imposto de Renda, que possui grandes somas de dinheiro vivo, em casa.
- [...] Em meio a essas contradições, surge uma figura peculiar às campanhas políticas: a do intermediário entre o que doa e aquele que recebe. [...] O candidato estará sempre pronto a liberar aquela figura para agir em prol das crescentes demandas da campanha. E, desta forma, grandes conglomerados serão abordados por pessoas sem credibilidade e, pior, por vários e diferentes intermediários, todos com "procuração" fidedigna do candidato e mediante a promessa de vigorosos e inauditos sortilégios durante o futuro governo.
- Terminada a eleição a conta zera e a reaproximação com o eleito se transforma num "pau de sebo". De pronto, o ex-candidato viaja para o exterior. É claro que aquele feliz doador não estará no mesmo avião.
- Na volta ao Brasil o ego do eleito pode não caber no avião. Ele se enclausura para escolher o secretariado e listar, de pronto, os titulares dos cargos mais cobiçados. Dentre os escolhidos terão preferência os políticos (ele quer se reeleger), depois os parentes (mesmo com a lei do nepotismo), depois os amigos mais íntimos e finalmente os apaniguados.
- O número do telefone do eleito foi trocado a atende um imbecil que sempre pergunta ao seu interlocutor se ele pode declinar o nome e o assunto. É nesse momento que o doador começa a perceber que a conta zerou no dia em que o candidato ganhou a eleição."



