"Recall" é uma palavra inglesa que já virou bastante compreensível quando se trata daquele chamado que as indústrias automobilísticas, por exemplo fazem aos consumidores que compraram produtos com defeito de fábrica para que os levem de volta para conserto ou troca.
Entre os publicitários e marqueteiros, no entanto, "recall" tem outro sentido: para eles, é a lembrança da marca que fica na cabeça do consumidor após ter visto/ouvido propaganda de determinado produto. Quanto maior a lembrança e quanto mais ela perdurar, mais eficiente é o "recall" da marca.
Toda essa introdução chata é para fazer um paralelo entre as marcas conhecidas dos dois principais candidatos ao governo estadual e a que eles deixaram (ou deixarão) após o primeiro debate televisivo da campanha de 2010, promovido pela TV Bandeirantes na última quinta-feira. Beto Richa e Osmar Dias, pelo que mostraram no debate, foram fiéis às lembranças que o eleitorado tinha deles antes do debate. E qual será o "recall" que o debate deixara a respeito de suas respectivas marcas?
Esqueçamos os cinco nanicos que disputaram em condições de igualdade com os principais o tempo de duas horas do debate. Concentremo-nos nos dois, que é o que interessa. E o que se viu foi a fidelidade relativa de Beto Richa à sua própria marca e a transformação de Osmar.
Uma das marcas mais notórias de Beto ficou outra vez patente: fala bastante e com exemplar fluência para dizer quase nada. Desfila os velhos chavões que o acompanham há anos: socorre-se da lembrança do pai José Richa; menciona, como sempre, o programa "Mãe Curitibana" e repete as láureas que recebeu ao longo de seus mandatos como "melhor prefeito do Brasil" muito embora este não seja um feito inédito, pois todos os seus antecessores ganharam o mesmo título.
Portanto, não surgiu no debate uma versão 2.0 de Beto Richa. É o mesmo da versão 1.0, enriquecida com upgrades determinados pela geografia, que se alargou de Curitiba para o resto do território paranaense. Ou seja: foi assim uma espécie de mais do mesmo.
Já o "recall" que Osmar Dias tinha deixado desde, pelo menos, 2006, se esfacelou no debate. A imagem de forte crítico e opositor do governo Requião simplesmente desapareceu. Foi a postura oposicionista que quase o levou a derrotar o ex-governador na eleição daquele ano e que acendeu a expectativa de quase metade do eleitorado de que, na eleição de 2010, o candidato estaria pronto para inaugurar uma nova era, deixando para trás a de Requião.
O Osmar Dias que apareceu no debate, no entanto, foi o aliado de Requião e o continuador de seu governo. Nem sequer mencionou o atual governador, Orlando Pessuti (principal artífice de sua candidatura), para concentrar-se em lôas às realizações do ex-adversário e agora, como candidato a senador de sua chapa, seu precário aliado político.
As grandes ações de marketing visam prolongar o bom recall e manter a fidelidade dos consumidores à marca. No máximo, fazem algumas mudanças de embalagem. Mas raramente mudam o conteúdo de um produto que deu certo. Neste sentido, Beto Richa foi melhor que Osmar Dias no debate.



