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Celso Nascimento

As lições de Goebbels

Assim como dizia Goebbels, uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. O senador Roberto Requião, candidato ao governo estadual, mostra-se aplicado seguidor da velha máxima do marqueteiro de Adolf Hitler ao repetir, à exaustão, suas velhas teses, nem sempre verdadeiras. Vide exemplo da promessa reprisada mil vezes de baixar ou acabar com o pedágio. Os paranaenses acharam que ele dizia a verdade e o elegeram duas vezes governador.

Agora, voltou ao discurso monocórdico (o pedágio deixou de ser, pelo descrédito, sua prioridade) de que vai baixar a conta da luz e congelar a tarifa da água. Já repetiu isto mais de mil vezes – fora as tantas mais que desfiou sobre o assunto, ontem, na entrevista com que a RPC deu por encerrada a sabatina que promoveu com os três principais candidatos. Sob estes aspectos – o da repetição e o da clareza com que defende as ideias de sempre – acaba por suplantar o emaranhado discurso dos seus oponentes.

Nem por isso, para quem é mais inteligente e esclarecido, capaz de distinguir entre a boa intenção e a mera mistificação, Requião não foi bem na entrevista de ontem. Primeiro, por sua tentativa de estabelecer um "debate" com o competente Sandro Dalpícolo, condutor da entrevista. Segundo, porque se saiu mal de algumas questões que lhe foram colocadas – daí sua tentativa de desqualificar as perguntas de Sandro.

Querem um exemplo? Sandro perguntou: o senhor ganhou uma eleição (1990) combatendo as aposentadorias acumuladas por José Richa, adversário na eleição daquele ano, mas agora acumula subsídios de senador com aposentadoria de ex-governador – exatamente a mesma situação que combateu no passado.

Irritado com o repórter, saiu-se pela milésima vez com a mesma esfarrapada desculpa. Segundo disse, a "verba de representação" que recebe é necessária porque, com ela, paga as indenizações às vítimas de suas ofensas. "Todo ladrão que eu chamei de ladrão me processou e eu tive de pagar indenização. E daí vem o juiz e diz 'Requião, você não pode chamar de ladrão o sujeito que ainda não foi condenado em instância final'."

Requião estudou em universidade pública, a Federal do Paraná, e se formou em Direito. Lá, os professores ensinaram-lhe a lição com que os juízes agora o advertem e o condenam: não chame de ladrão quem ainda não foi condenado. Simples assim.

E o que temos com isso? Temos o seguinte: não somos, o povo contribuinte, obrigados a pagar a aposentadoria de Requião porque ele ignora e desrespeita uma norma elementar do Direito. A culpa pelo desrespeito à lei e pela ignorância córnea não é do contribuinte. Se é de seu direito (legal porém imoral) receber aposentadoria de ex-governador, que o exerça. Mas que não use a justificativa cínica de que precisa debitar ao contribuinte a conta de sua própria irresponsabilidade.

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