Sabe-se que coerência não é exatamente a melhor das virtudes dos políticos – uma hora pensam e agem de um jeito para, na hora seguinte, conforme as conveniências, mostrarem seu lado avesso. Esta “lógica”, levada religiosamente a sério quando se trata de conquistar o poder (pelo poder), inspira o projeto de engenharia que está sendo desenhado para montar a esquadra que pretende levar juntos o ex-senador Osmar Dias ao Palácio Iguaçu e Beto Richa ao Senado em 2018.
Os interesses são mútuos e se complementam: como Beto Richa não quer correr o risco de não se eleger senador, ele precisa montar na garupa de um desafeto, o candidato até agora mais forte ao governo estadual, Osmar Dias. Este, por sua vez, enfrentará dificuldades se se mantiver filiado ao PDT, legenda de reduzida estrutura no estado e que, em futuro próximo, deverá ser “enriquecida” com a absorção de partidos e políticos de esquerda. Muitos petistas entrarão no PDT para exorcizar o estigma do PT; os de partidos nanicos farão o mesmo vitimados pela cláusula de barreira que virá na reforma política.
Logo, seria de bom alvitre para Osmar Dias – conhecido por seus vínculos com o agronegócio – não se misturar com setores que, por exemplo, se alinham ao MST e à defesa dogmática do meio ambiente. Por isso, faria parte do projeto deixar o PDT para ingressar no PSDB ou no aliado PSB. Sair do PDT dá-lhe outra vantagem: livra-se de ter de subir no palanque de Ciro Gomes, virtual candidato do partido à Presidência da República, e com isso ficar impedido de apoiar o irmão senador Alvaro Dias (PV), também pronto para disputar o Palácio do Planalto.
Por outro lado, fazer parte da chapa de Osmar é o paraíso para Beto Richa: ganha seiva para concorrer a uma das duas vagas em disputa para o Senado. É certo que periga contaminar o companheiro com os elevados índices de rejeição que carrega, mas, em troca, tem a oferecer a máquina do PSDB, azeitada desde os tempos em que passou pela prefeitura de Curitiba e pelos dois mandatos de governador – e agora reforçada com a retomada da capital com a eleição de Rafael Greca, a quem apoiou e com quem sua turma dividirá o poder municipal.
A segunda vaga para senador na chapa encabeçada por Osmar Dias já estaria assegurada para Ratinho Jr. (PSD/PSC). Faltaria apenas encontrar um vice ideal, preferentemente um representante do Oeste. Um político que vem sendo citado é o deputado federal Dilceu Sperafico (PP), embora seu nome esteja incluído na “lista de Janot” enviada ao STF – relação de agentes públicos enrolados na Lava Jato.
Esta engenharia pressupõe constranger e deixar ao largo a vice-governadora Cida Borghetti (PP), também candidata ao governo. Mas ela tem um trunfo ameaçador que pode ser costurado pelo marido, bom operador político, o ministro da Saúde Ricardo Barros. Não lhe será impossível atrair para a chapa da mulher o senador Roberto Requião que, se enxergar nisto uma chance irrecusável de sair do isolamento, disputará a reeleição. E com o velho ímpeto capaz de produzir estragos – retóricos ou não – à chapa adversária.
Lembrando sempre: estas são especulações que circulam nos meios políticos na data de hoje. Amanhã pode ficar tudo diferente.



