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Como num passe de mágica, o governo estadual saiu do buraco. Segundo informou o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo, na última quinta-feira (3), os cofres que administra já apresentam um superávit de R$ 2 bilhões – situação agora tão confortável que permitiu ao governador Beto Richa (PSDB) anunciar um “pacote de bondades” para o povo paranaense. São 18 medidas que, entre outros benefícios, farão brotar riquezas e bem-estar para todos.

Tudo isto seria fruto do “ajuste fiscal” empreendido desde o início deste segundo mandato, já que, desajustado no primeiro, só se falava em dívidas astronômicas e num sombrio fim de túnel. Como se fez o ajuste, objeto de autoelogios do governo, é outra conversa. Mas pode-se lembrar de algumas providências tomadas para que se chegasse à suposta bonança de agora e que custaram bom preço:

– Os servidores públicos perderam o reajuste integral de seus salários, que ficou abaixo da inflação.

– O IPVA aumentou 40%.

Olho vivo

Tempo demais 1

Passados mais de quatro meses do acontecimento, a Polícia Militar ainda não divulgou relatório apontando quem da caserna seria responsável pelo massacre de 29 de abril. Embora tenha tido participação mais que direta no episódio e já saiba minuciosamente até quantas balas foram disparadas, a PM ainda não veio a público para dizer se o excessos decorreram de vontade própria ou se recebeu ordens superiores para agir daquela forma.

Tempo demais 2

Várias instituições investigaram e concluíram que os responsáveis foram o governador e os então secretário de Segurança, Fernando Francischini, e o comandante da corporação, coronel Kogut. Ministério Público, Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e até a Anistia Internacional chegaram às mesmas conclusões. Francischini tirou o corpo fora; diz que não teve nada com isso e que, um dia, quem sabe, talvez, dê nome aos bois. O governador também saiu pela tangente. O único a pagar o pato – mas mantendo o devido altruísmo da disciplina militar – foi o coronel Kogut, ao ser afastado do cargo.

Vem greve?

Sobre nota publicada na última terça-feira (1º), que registrou confissão à Justiça do presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc), Anderson Teixeira, de que a entidade acumula dívida de R$ 2,7 milhões – sua assessoria informa que: a dívida realmente existe; que ela decorre da falta de repasses por parte das empresas de ônibus de valores do Fundo Assistencial e do Plano de Saúde – verbas embutidas na tarifa paga pelos usuários do transporte coletivo. O Sindimoc move ação criminal contra o patronato por apropriação indébita, mas não descarta a possibilidade de uma greve geral da categoria. A receita do sindicato com os dois itens chega a quase R$ 10 milhões por ano – que, no fundo, saem do bolso do passageiro.

– Todos os produtos de consumo subiram em razão do aumento generalizado das alíquotas do ICMS.

– Fundos da Paranaprevidência passaram a engordar o caixa da administração ­direta.

– 213 cidadãos que manifestavam insatisfação no Centro Cívico em 29 de abril saíram feridos por bombas, balas de borracha, cassetetes e mordidas caninas.

– Toda dívida do estado superior a R$ 13 mil só será paga em longínquo futuro, por meio de precatórios.

Medidas como essas não atingiram apenas o servidor público ou credores. Elas afetaram a vida de todo paranaense: é do Paraná o maior índice médio de inflação do país – o que significa que toda a população perdeu poder aquisitivo em índice superior ao dos brasileiros em geral.

Vejamos se as “bondades” compensam as “maldades”. Uma das compensações é a garantia de que o 13.º salário dos servidores será pago 15 dias antes do Natal. O resto está no plano das promessas – quase todas iguais às feitas nas duas campanhas anteriores, como construir mais casas populares; dar mais recursos para prefeituras; disponibilizar crédito para empresas; investir em estradas; criar um fundo de combate à pobreza; incentivar calçamento com pedras irregulares e assim por diante.

Mas, para fazer isso, o ajuste fiscal já executado não basta. Entre as 18 medidas ditas “bondosas”, figuram algumas que visam abastecer o erário com mais recursos extras – dentre elas a de lançar a mão grande nos depósitos judiciais; antecipar receitas futuras (isto é, “vender” já, com desconto, os créditos que o governo teria a receber a médio e longo prazos); e, claro, subir um pouco mais a carga tributária – caso do imposto sobre heranças, cuja alíquota única de 4% chegará, escalonadamente, a 8%.

No fundo, com esta “agenda positiva” repentinamente tirada da cartola, o resultado esperado pelo governo é melhorar a própria imagem.

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