Desde domingo, quando esta coluna publicou a notícia, todo mundo falou a respeito do chefe do trânsito de Curitiba que já teve registrados em sua carteira de habilitação mais de 180 pontos.
O advogado Marcelo Araújo, titular desde janeiro da então recém-criada Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), agiu até agora como único juiz de seu próprio destino: entregou a carteira ao Detran, se inscreveu para fazer o curso de reciclagem (no qual espera ser aprovado) e comunicou o povo e o prefeito de que ficará uma semana afastado do cargo. Deduz-se que o prefeito achou satisfatória a solução encontrada por seu funcionário e que pretende mantê-lo sob sua confiança.
Na "nota de esclarecimento" que divulgou para "restabelecer a verdade dos fatos", Araújo diz ser incorreta a informação aqui publicada de que sua carteira "estaria somando 180 pontos". Acrescenta: "Isso jamais aconteceu! Minha carteira está com 22 pontos, num total de cinco multas, todas do ano de 2008".
A verdade é que a coluna, valendo-se do prontuário arquivado no Detran, informou que Araújo recebeu nove notificações desde 2003 cada uma das quais relativa a um lote de 20 ou mais pontos. Portanto, um mínimo de 180 pontos. No entanto, ele sempre manteve seu direito de dirigir e nunca precisou fazer o curso de reciclagem a que são submetidos quaisquer motoristas que pontuarem acima do limite legal.
Sua carteira, de fato, mantinha-se sempre "limpa", pois Araújo invariavelmente conseguia convencer os órgãos julgadores (Jari's e Cetran, dos quais, aliás, é membro) de que eram ilegais os registros que pesavam contra ele e ganhava anistia. Todas as nove notificações foram arquivadas administrativamente.
A nota de esclarecimento traz, contudo, a revelação de um fato até então despercebido: há um décimo lote de infrações ainda pendente, relativas apenas ao ano de 2008, somando 22 pontos. Esses 22 pontos não estavam contabilizados na primeira fornada. Portanto, ao invés de 180, são, no mínimo, 202 os pontos somados em oito anos. Seria ele um infrator contumaz?
Araújo desistiu de recorrer desse último lote. Para "dar exemplo", diz ele, preferiu entregar a carteira e se submeter à reciclagem. Com o quê, além de recuperar o direito de voltar a dirigir, espera também manter o cargo de chefe do trânsito e dar ao prefeito a certeza de que ele nomeou o homem certo para o lugar certo.



