Cessa tudo quanto a antiga musa canta, diria Camões se soubesse que o idealizado metrô de Curitiba está prestes a ser abandonado. A ideia de fazê-lo foi herdada pelo prefeito Gustavo Fruet dos antecessores Beto Richa e Luciano Ducci. O projeto inicial, cheio de falhas técnicas, foi totalmente refeito, com exceção de seu principal defeito: o de fazer exatamente o mesmo trajeto que há anos é servido com eficiência pelos ônibus que trafegam pelas canaletas de Sul a Norte da cidade.
Dinheiro para fazê-lo também já estava, em parte, garantido. A presidente Dilma Rousseff esteve em Curitiba duas vezes uma durante a gestão de Ducci e outra já na de Fruet para anunciar que o governo federal entraria com R$ 1,8 bilhão. Outros R$ 2,3 bilhões teriam de vir dos cofres da prefeitura, do estado e das empresas que vencessem a licitação para construir e explorar o sistema.
Várias razões estariam levando a administração municipal a abandonar a ideia do metrô e substitui-la por outra tão ou mais eficiente, mas sobretudo mais útil e mais barata para implantar e operar. Uma das razões é a demora na aprovação do edital de licitação. Lançado em junho passado, previa-se que as obras poderiam se iniciar neste fim de ano. Mas não: o Tribunal de Contas ainda está debruçado em minúcias para encontrar defeitos. Enquanto isso, os custos sobem e a oferenda federal (que não é corrigida) perde valor. Logo, do ponto de vista financeiro, o metrô está ficando cada vez mais caro e mais inviável.
A demora, no entanto, estaria permitindo à área técnica da prefeitura refletir melhor sobre a conveniência de implantar o novo modal. Ele agregaria capacidade não muito maior do que os atuais ônibus expressos, o que, em termos de custo/benefício, a relação não seria das melhores. Melhor seria aprimorar o que já existe e investir recursos para garantir mobilidade onde ela é muito deficiente.
O que está sendo pensado para substituir o metrô ainda está sob segredo. As linhas gerais de novos projetos já estariam idealizadas e sobre pranchetas estão os primeiros rascunhos. Mas ninguém revela o que, ao final, delas sairão.
Enquanto isso, prefeitura e governo do estado tomam providências para reduzir o gasto que têm para subsidiar o transporte coletivo que atende Curitiba e outros 13 municípios metropolitanos. Só este ano, as duas administrações destinaram quase R$ 200 milhões dos cofres públicos para manter a passagem em R$ 2,70.
A situação financeira não mais permite que as burras públicas continuem gastando tanto. E esta é uma das razões para que, a partir desta terça-feira, os usuários passem a pagar R$ 2,85 um aumento de 5% em relação aos atuais R$ 2,70. Em fevereiro, data-base de motoristas e cobradores, vem mais aumento, mas provavelmente ainda longe de empatar com a tarifa técnica, aquela que os empresários de ônibus recebem.
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