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De quem é a culpa? Essa foi a pergunta dominante em todos os meios, ontem, diante da tragédia de domingo, quando ocorreu o confronto armado entre militantes sem-terra que invadiram (pela terceira vez) a fazenda Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, e seguranças particulares que tentavam desalojá-los da área. Além de cinco feridos, dois mortos – um sem-terra e um segurança.

As respostas à pergunta variam de acordo com a visão política dos que tentam explicar o acontecimento, mas é impossível, por mais boa vontade que se tenha, não apontar o dedo para o governo do estado. Mesmo entre aqueles que tentam se colocar em campo neutro, acima das divergências ideológicas.

Até as pedras sabem das ligações solidárias que unem o MST e os demais movimentos de sem-terra a Requião. Sabem também da má-vontade explícita do governador com o agronegócio, com as multinacionais e com os plantios transgênicos. Além das pedras, também os postes sabem que Requião não é lá muito afeito ao cumprimento das leis e das ordens judiciais.

Juntando tudo isso num mesmo caldeirão, relembremos alguns fatos que marcaram, direta ou indiretamente, o caso Syngenta:

• Em março de 2006, durante a realização da conferência MOP 3, promovida pela ONU em Curitiba, Requião apoiou o movimento Via Campesina que ameaçava invadir a fazenda.

• Em 16 de março, a Via Campesina de fato invadiu a área, expulsou os funcionários, destruiu lavouras e laboratórios e por lá ficou.

• Dias depois, a Justiça determinou a reintegração, mas o governo se recusou durante meses a cumprir a ordem.

• Em novembro, pressionado por multa diária de R$ 50 mil por desobediência à ordem judicial, Requião decretou a desapropriação da fazenda para permitir que os sem-terra nela permanecessem.

• Em fevereiro de 2007, o decreto foi considerado nulo pela Justiça, mas os invasores só deixaram a área em julho, 16 meses após a ocupação.

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De quem é a culpa? 2

Para o deputado Eduardo Sciarra (DEM), membro da Comissão de Agricultura da Câmara e que liderou um grupo de parlamentares que inspecionou a fazenda em abril passado, quando ela ainda estava ocupada, a seqüência de atitudes de Requião evidencia a existência de "um conluio permanente do governador com invasores de terras e seu desprezo pela lei".

A partir desse raciocínio, Sciarra diz não ter dúvidas de que a responsabilidade pela tragédia de domingo é de Requião, pois num "estado onde o próprio governador não cumpre a Constituição e nem obedece a Justiça, o preço só pode mesmo ser alto".

Para o governo do estado, a culpa pela tragédia é dos produtores rurais que contratam seguranças para proteger seu patrimônio. Segundo notícia oficial, "sete seguranças continuam presos e foram autuados por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das próprias razões, na delegacia de Cascavel. [Já] Os sem-terra foram liberados pela polícia".

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Olho vivo

Ausência 1 – O presidente da empresa municipal Curitiba S.A., e recém-eleito secretário do diretório estadual do PSDB, Juraci Barbosa, discorda dos que criticaram a ausência do prefeito Beto Richa na convenção tucana realizada domingo. O prefeito, eleito vice-presidente, estava em São Paulo para assistir ao Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1.

Ausência 2 – Em nota dirigida à coluna, Barbosa explica: "Embora o automobilismo seja o esporte da preferência do prefeito Beto Richa, não podemos desconsiderar que a Fórmula 1 é o maior evento do calendário esportivo brasileiro. Em razão de ser um evento de classe mundial, é freqüentado pelos principais executivos do setor automotivo, que envolve montadoras de automóveis, fabricantes de pneus e acessórios e de instituições financeiras".

Ausência 3 – Barbosa completa: "O prefeito Beto Richa vem mantendo contato com executivos de empresas do setor automotivo, na tentativa de atrair novas empresas para a cidade, gerando emprego e renda para a população. Esses contatos vêm sendo mantidos desde a realização da primeira corrida WTCC, em Curitiba".

Ausência 4 – O ex-governador Jaime Lerner, em tom de blague, disse que o prefeito Beto Richa, ao trocar a convenção do PSDB estadual pela Fórmula 1, em São Paulo, "escolheu uma das duas coisas mais chatas que existem". A outra, garante, é convenção partidária.

Conflito – A procuradora-geral do Estado, Jozélia Broliani, arrisca levar um "pito" do governador Roberto Requião quando souber o que ela falou ontem no 8.º Congresso Paranaense de Direito Administrativo, realizado em Curitiba. Jozélia elogiou as audiências públicas que a prefeitura da capital promove para elaborar o orçamento municipal e lamentou que o governo estadual não consiga implantar o mesmo sistema.

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"Nós não vamos admitir no Paraná a ação de um bando que promove a violência."

Do secretário da segurança, Luiz Fernando Delazari, referindo-se aos seguranças da fazenda Syngenta.

celso@gazetadopovo.com.br

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