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A reta final da campanha paranaense de 2010 está quase igual às de 1989, 1990, 2000, 2006... e tantas outras que antecederam ou permearam as citadas. A história insiste em se repetir: todas essas eleições foram marcadas por finais muito parecidos com uma luta de vale-tudo. Neste 2010, o que vale é proibir pesquisas registradas, divulgar pesquisas falsas, invadir ilegalmente tempos de rádio e televisão que pertencem a outrem e partir para o ataque à biografia alheia.

Relembremos a história para confirmar as semelhanças que a campanha de 2010 guarda com as anteriores:

• 1989 – Fernando Collor de Mello, ameaçado de ser derrotado por Lula na disputa pela Presidência, usa a televisão para desconstruir a imagem do adversário. Entre outras coisas, usa depoimento de uma ex-namorada que acusa Lula de ter-lhe pedido para fazer um aborto.

• 1990 – Os candidatos ao governo do Paraná, pela ordem de preferência nas pesquisas, eram o ex-governador José Richa, o deputado José Carlos Martinez e Roberto Requião. No primeiro turno, Requião investe contra Richa. Acusa-o de ser marajá de aposentadorias e o faz cair para o terceiro lugar. Requião sobe uma posição e disputa o segundo turno com Martinez. Nos dias finais da campanha, inventa um certo pistoleiro Ferreirinha, que teria matado posseiros a mando da família Martinez. O resultado é conhecido: Requião se elege.

• 2000 – Cassio Taniguchi disputa a reeleição de prefeito de Curitiba com o petista Ângelo Vanhoni. Perdia por uma diferença de quase 20 pontos. Bastaram alguns programas de tevê em que Vanhoni circulava entre sem-terra acampados defronte o Palácio Iguaçu, identificando-o com posições radicais. Vanhoni perdeu a eleição nos últimos minutos.

• 2006 – Osmar Dias chega ao segundo turno disputando com Requião. Pesquisas apontam seu avanço e Requião percebe o perigo de não se reeleger governador. Lança mão, então, da arma que usa com maestria: o ataque ao adversário. Dois temas predominam na sua pregação contra Osmar: a escolha de um vice envolvido em acusações de improbidade e a compra da Fazenda Rio da Prata, sobre a qual Requião lança suspeitas. Foi graças a esse estrategema que Requião se salvou por 10 mil votos.

Beto Richa disputou quatro eleições majoritárias. Em 2000, elegeu-se vice-prefeito de Curitiba puxado pela vitória de Taniguchi. Em 2002, concorreu ao governo enfrentando Requião, Alvaro Dias, padre Roque e Rubens Bueno. Acabou em 4.º lugar. Sem chance, não usou de nenhum expediente que pudesse alterar os resultados.

Candidato a prefeito pela primeira vez em 2004, elegeu-se em segundo turno concorrendo com Angelo Vanhoni. Em 2008, se reelegeu com 77% dos votos, já no primeiro turno, montado numa forte base antirrequianista que sobreviveu às renhidas eleições de 2006. A evidente facilidade favoreceu a construção da imagem de bom moço, avesso aos ataques.

Ele vinha cultivando esta imagem na presente campanha até o início deste mês de setembro, quando cometeu um erro grave: chamou de laranjas-podres uma minoria de professores que lhe fazia oposição. A afirmação ganhou tons genéricos, atingindo toda a classe do magistério. Para corrigir o erro, cometeu outro: num debate de televisão, disse que em sua família não havia ninguém que tivesse batido em professores – uma referência ao ex-governador Alvaro Dias, irmão de Osmar.

Além de não recuperar a simpatia do professorado, ganhou má-vontade ainda maior do até então silencioso senador Alvaro Dias – seu correligionário no PSDB – que declarou voto no irmão adversário político.

Acossado pelos sintomas de que tais erros haviam-lhe custado perdas substanciais nas pesquisas e correspondente crescimento do outro lado, Beto Richa deixou de lado a campanha de propostas, de "alto nível", e passou a se utilizar de estratégias diferentes.

Primeiro, recorreu à Justiça para impedir a divulgação de três pesquisas importantes – Vox Populi, Datafolha e Ibope – que lhe poderiam ser desfavoráveis. Em seguida, passou a se utilizar de expedientes muito parecidos com os que levaram à vitória Collor Cassio Taniguchi e Requião nas eleições relembradas no início desse texto.

Lançou mão também da divulgação de pesquisas de origem duvidosa e de ataques ao adversário. Nesse último caso, valeu-se das mesmas acusações feitas por Requião contra Osmar em 2006. E, por fim, invadiu os horários reservados aos candidatos a senador e deputados de sua própria chapa para a veiculação dos ataques.

Por essas e por outras, já foi condenado pela Justiça a pagar multas que montam a R$ 600 mil. Quantia insignificante se a estratégia que deu certo para tanta gente der certo também para ele.

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