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Assistimos a um grande paradoxo no Paraná. Temos um governador que, com fervor lacerdista, prega a moralidade. Usa de retórica veemente para ameaçar ou aconselhar que se bote na cadeia toda e qualquer pessoa que, no seu entendimento, avançou no dinheiro público. E também manda investigar, grampear e prender de vez em quando algum suspeito – geralmente integrante de governo passado.

Já em relação ao que ocorre no próprio governo, não se vêem providências tão drásticas. Os casos de supostos desvios ocorridos na administração chegam ao conhecimento público graças ao vazamento de informações internas – usualmente alimentadas pelo próprio governador – mas se desconhecem atitudes firmes para corrigir os problemas e punir os eventuais culpados. É nisso que consiste o paradoxo.

Avolumam-se as denúncias de malfeitorias em vários setores do governo. A imprensa, a opinião pública e a oposição cobram informações e providências – mas nada acontece, nem informações nem providências.

Os casos estão envelhecendo. Exemplos? Um deles é o da Sanepar–Pavibrás – aquele em que a empreiteira foi contratada por R$ 69 milhões, recebeu R$ 113 milhões, cobra mais R$ 40 milhões e não entregou as obras de saneamento que se comprometeu a fazer no litoral do estado. Um relatório da própria Sanepar indica que houve improbidade por parte de gestores da empresa.

Outro é o da Ceasa. Diretores acusados de fazer caixa 2 foram afastados às pressas, mas, ao que sabe, ninguém foi punido nem a grana supostamente desviada foi devolvida.

O mesmo fenômeno se dá no caso do denunciado exagero na concessão de aditivos da Secretaria de Obras. Foram lançadas suspeitas também quando a uma provável "quadrilha dos remédios". Não há notícias de providências. O moralismo trombeteado é só para inglês ver?

Habitação fica com Beto

O governador Roberto Requião alegou compromissos urgentes para não acompanhar a audiência do prefeito Beto Richa com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ontem, em Brasília, para definir os projetos que serão financiados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na capital.

Com isso, livrou-se de assistir à decisão de que será de responsabilidade da prefeitura, e não do governo do estado, a aplicação de quase de R$ 177 milhões em projetos habitacionais e de urbanização em Curitiba. Havia uma disputa ferrenha – quase escandalosa – entre a Cohab (municipal) e a Cohapar (estadual) – para pegar a bolada, que vai resultar na construção de cerca de 8 mil moradias. O governo estadual ficará com a parte de saneamento dos novos conjuntos.

O ministro Paulo Bernardo assegura que foi uma decisão eminentemente técnica a preferência dada à prefeitura. É crível, já que do ponto de vista político quem ganhou foi o prefeito Beto Richa – principal adversário da petista Gleisi Hoffmann, esposa de Paulo Bernardo, na disputa pela prefeitura de Curitiba em 2008. E o PT, como se sabe, é aliado de Requião.

Lula virá a Curitiba no dia 20 para assinar os convênios do PAC com Beto Richa.

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Olho vivo

Contribuição 1 – Funcionários comissionados lotados no Palácio das Araucárias estão sendo constrangidos a assinar uma autorização para que o PMDB lhes tire da conta bancária 3% do valor do salário que recebem. Dependendo dos salários que percebem, os servidores são surrupiados entre R$ 70,00 e R$ 150,00 todos os meses.

Contribuição 2 – Um zeloso funcionário que, mesmo não sendo filiado ao PMDB, ao qual também não deve sua nomeação, calcula que o caixa do partido será engordado em R$ 3 milhões até o fim da atual gestão considerando apenas as contribuições recolhidas no palácio do governo.

Contribuição 3 – Ocorre que a contribuição "voluntária" não se limita aos servidores do palácio. Se estende a todas as demais secretarias e empresas públicas. Dos graduados diretores de companhias mistas a mordida mensal chega a R$ 500,00.

Springfield 1 – O jornalista Cândido Gomes Chagas, editor da sempre polêmica revista "Paraná em Páginas", prova que a prefeitura de Curitiba sabe que é público o terreno incorporado pelos condônimos do luxuoso edifício Springfield, no Batel. Uma separata da revista reproduz documento oficial de 1980 em que a prefeitura anunciava sua disposição (nunca cumprida) de reaver o terreno.

Springfield 2 – Sobre a área pública, o condomínio construiu uma piscina, obstruindo a Rua Dom Pedro II, importante para desafogar o caótico trânsito do bairro. Cândido desafia o prefeito Beto Richa a fazer com o terreno tomado o mesmo que fez com a Pracinha do Batel: botar um trator lá e abrir a rua.

Cartões – A secretária estadual da Administração, Marta Lunardon, enviou longa carta de explicações sobre os gastos do governo do estado com cartões corporativos – principal assunto da coluna publicada no domingo. As explicações serão reproduzidas amanhã.

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"Eu não tenho medo de vaia."

Do presidente Lula, ontem, comentando as vaias que recebeu do público presente à abertura dos Jogos Pan-americanos. Mas, por via das dúvidas, está pensando em cancelar sua presença no encerramento das competições.

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