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Celso Nascimento

Engorda com custo inflado

Estaria o Brasil vivendo tempos de hiperinflação? Se esse não é o caso, então soa muito estranho que um projeto que em 2010 estava orçado em cerca de R$ 60 milhões, por que hoje, apenas três anos depois, seu custo teria saltado para nada menos de R$ 505 milhões? Este é o mistério que cerca o projeto de engorda de 7 km de praias no litoral do Paraná, entre Matinhos e Flórida.

O projeto foi um dos itens da conversa que o governador Beto Richa teve com a presidente Dilma Rousseff, na semana passada. Ele pediu urgência na liberação de recursos federais naquele montante para a realização da obra – uma ideia que nasceu em governos passados, tomou forma na gestão de Orlando Pessuti e que depois, de gaveta em gaveta, foi tocado em velocidade muito aquém do avanço destruidor do mar.

Para conter a erosão que come as praias, calçadas e avenidas e engole até as casas de veraneio construídas à beira-mar, a obra consiste em dragar areia limpa de alto-mar e depositá-la ao longo de uma faixa de 50 metros de largura ­­por ­­­7 km de extensão. A areia seria contida por gabiões e outras técnicas de engenharia para que outra vez não "fugisse" da orla. Custo deste trabalho a preços de 2010: R$ 30 milhões. Outros R$ 25 milhões a R$ 30 milhões seriam aplicados em obras de paisagismo e recomposição da avenida. Total de cerca de R$ 60 milhões.

Basicamente, o projeto de engenharia e as licenças ambientais foram concluídos pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano em 2010, quando Orlando Pessuti era governador e o arquiteto Forte Netto, secretário. Os custos seriam divididos em três partes – uma do governo do estado, outra da prefeitura e a terceira da União. Esta última chegou a depositar em conta bancária R$ 12 milhões iniciais.

Quando Richa assumiu, em 2011, tudo parou, a pretexto de que o projeto precisaria ser revisado. E de fato foi: o Instituto das Águas se encarregou de agregar à proposta original também a macrodrenagem dos rios e canais que desembocam nas praias.

Ok. A obra de fato ficou um pouco mais complexa, mas engenheiros sanitaristas e ambientalistas consultados pela coluna – que trabalharam ou conhecem profundamente o caso específico do problema que atinge as praias – ficaram espantadíssimos com o acréscimo de preço.

Quer dizer então, perguntam eles, que só a macrodrenagem vai custar mais de ­­R$ 400 milhões? "Tem coisa errada ou muito suspeita nesse negócio", disse um dos consultados com quase 40 anos de experiência no ramo. Detalhe: R$ 505 milhões é quanto Richa pediu a Dilma, aí não incluídas as contrapartidas da prefeitura e do próprio governo estadual. Ou seja: no total, a previsão de custo deve beirar, pelo menos, R$ 700 milhões – aliás, número citado em entrevista gravada pelo presidente do Instituto das Águas, Marcio Nunes.

O projeto está sendo analisado detidamente pelo Ministério da Integração.

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