Assim, de repente, uma licitação lançada pelo Porto de Paranaguá que seguia em ritmo de mar calmo acaba sendo suspensa pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Seriam destinados R$ 35 milhões à empresa que se apresentasse em melhores condições para instalar um completo sistema informatizado de controle das atividades portuárias incluindo exigências de segurança e vigilância que, a partir dos ataques de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas (NY), passaram a ser impostas a terminais marítimos de todo o mundo. Uma das finalidades do sistema é a de prevenir ações terroristas nos portos.
Acontece que o edital de licitação 007/2012 continha sinais evidentes de que estava direcionado para beneficiar uma só empresa e alijar todas as que ousassem entrar na concorrência. Dentre as que se consideraram prejudicadas pelo suposto direcionamento estavam a Infrabrazil Tecnology (de Curitiba) e a Trielo Informática (paulista), que contrataram o escritório Muniz Advogados para interpor os recursos devidos contra a licitação.
O TCU se convenceu com os motivos alegados pelos reclamantes e determinou ao Porto de Paranaguá a imediata suspensão da licitação. Apesar das evidências de que apenas uma empresa seria a favorecida, duas conseguiram chegar quase ao fim do processo licitatório. Bastava apenas a abertura das respectivas propostas de preço para que o martelo fosse batido em favor de uma delas.
As duas firmas que chegaram (quase) ao fim foram a IB Tecnologia e Sistemas e a Dataprom Equipamentos de Serviços de Informática Industrial. Nas fases anteriores da licitação, a primeira obteve 192 pontos (entre 200 possíveis) e a outra, 166. As propostas de preço, cujos envelopes não puderam ser abertos por decisão judicial, é que definiriam a vencedora.
Mas que poder teria qualquer das duas para influir sobre o resultado e abocanhar sozinha os R$ 35 milhões? Uma investigação, ainda superficial, levanta a ponta do fio que, ao fim da meada, pode chegar a poderosos políticos. Um deles seria um senador do Nordeste, dublê de empresário do ramo de informática e sócio dos donos da suposta principal beneficiária do esquema. O senador seria amigo de influentes deputados estaduais do Paraná, que teriam agido como lobistas do negócio. Na outra ponta da investigação aparece o nome da outra concorrente como frequente ganhadora, nos últimos anos, de licitações em serviços da prefeitura de Curitiba e do governo estadual.
O atual superintendente da Appa, Luiz Dividino, que herdou licitação de seu antecessor, Airton Maron, não descarta a possibilidade de anular o edital e lançar outro corrigindo as distorções apontadas.



