Para que o metrô de Curitiba se tornasse possível, foi preciso remontar a engenharia financeira prevista lá em 2011. Há dois anos, era de 13 quilômetros a extensão prevista no projeto gestado pelo ex-prefeito Luciano Ducci, que entre outros defeitos defendia a construção de longo trecho a céu aberto ao longo das canaletas, com dramáticos efeitos sobre o trânsito, o transporte e a vida no entorno da escavação. Custo da obra estimado à época: R$ 2,3 bilhões, repartido entre a União, a prefeitura, parceiros privados e o governo estadual, que entraria com R$ 300 milhões.
O novo projeto, embora obedeça ao mesmo (e discutível) trajeto, aumentou a extensão para 17,5 quilômetros e mudou a técnica de construção será feita quase toda subterrânea, com pouca interferência na superfície. As alterações implicaram no aumento do custo para R$ 4,5 bilhões, com consequentes mudanças na repartição dos recursos. A União duplicou o aporte inicial; a prefeitura idem; os parceiros privados também. Faltava o governo do estado.
Mas como exigir mais do governo estadual se este enfrenta graves problemas de caixa e está impedido sequer de contrair financiamentos por inadimplências decorrentes de má gestão? Foi daí que surgiu a "bondade": apesar de o estado ainda não ter cumprido todas as exigências que o liberem das restrições, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) anunciou que, em uma semana, concluirá estudos visando a permitir que o estado participe financeiramente do empreendimento.
O governador ficou satisfeito com a promessa e imediatamente passou a contar com R$ 3,5 bilhões que pediu emprestados a várias instituições e que estavam empacados na STN. Nem mesmo esperou o jamegão oficial para participar da festa de relançamento do metrô, anteontem, com a presidente Dilma Rousseff.
No mundo político tudo é possível. Mas não custa perguntar: você abre a página da STN e constata, por exemplo, que o Paraná continua aparecendo como inadimplente na aplicação do limite constitucional de recursos para a saúde um dos 14 fatores impeditivos que até anteontem barravam as pretendidas operações de empréstimo. O último quadrimestre da prestação de contas também mostrava a desobediência do governo quanto ao limite de gastos com pessoal outro fatal obstáculo à abertura de crédito e ao aval da União.
Então, o que pensar? Pode-se pensar que, em nome do bem maior isto é, garantir a construção do metrô o governo federal tenha decidido dar um "jeitinho" para livrar o Paraná das inadimplências e, assim, permitir que ele comprometa R$ 700 milhões na obra.
Pode pensar e também perguntar: ao fim do prazo que a STN pediu para estudar o assunto, ela realmente dará resposta favorável? O mais provável é que sim pois do contrário estaria afrontando uma decisão política e pública de Dilma Rousseff.
Embarcado de carona no metrô, o governador poderá ouvir um cochicho: foi bom pra você?



