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É muito natural que candidatos derrotados saiam imediatamente caçando culpados. Há alguns ferozes, como o senador Roberto Requião, que protagonizou pelo menos dois episódios históricos de destrambelhada reação contra o resultado das urnas. O primeiro deles foi em 2006 quando, mesmo vitorioso pela diferença de apenas 10 mil votos sobre o oponente Osmar Dias, deu entrevista no Palácio já no dia seguinte com o objetivo de distribuir impropérios, principalmente contra a "imprensa canalha" que foi ouvi-lo. Agora, em 2014, derrotado por uma diferença de quase 30 pontos por Beto Richa, usou sua televisão caseira transmitida pela internet para outra "coletiva", não menos irracional do que a primeira.

Ontem, dez dias após a eleição, chegou a vez de a candidata do PT, senadora Gleisi Hoffmann, dar explicações sobre os esquálidos 14% dos votos que lhe colocaram numa distante terceira posição. Ao contrário, porém, de Requião, Gleisi manteve a civilidade – muito embora não deixasse de apresentar ao nosso correspondente em Brasília, o jornalista André Gonçalves, os frutos de sua "caça". Enumerou vários, que, pela ordem de importância, podem ser assim apresentados:

• A notória rejeição do eleitorado paranaense ao PT, alimentada pelo ódio difundido contra o partido;

• A campanha de "desconstrução" de sua própria imagem, que a identificava como inimiga do Paraná por, supostamente, ter contribuído para barrar recursos para o estado quando ocupava a Casa Civil da Presidência da República. Neste ponto, faz uma autocrítica: ela pensava que as acusações que o governador Beto Richa disparava contra ela não iam "pegar" e, por isso, diz ela, mais preocupada em gerir os programas afetos à Casa Civil, não reagiu na medida certa para contestar. Apostou que o povo, na hora certa, iria refletir melhor.

• Outra vez assumiu a responsabilidade por não ter, enquanto era ministra, promovido as articulações políticas necessárias para garantir maior corpo e consistência à própria candidatura. Mas se justifica: se se dedicasse a fazer a própria política, seria acusada depois de usar a condição de ministra apenas em benefício próprio.

• A ausência do líder pedetista e vice-presidente do Banco do Brasil Osmar Dias também entrou no rol de queixas de Gleisi Hoffmann. A senadora entende que se Osmar tivesse participado ativamente da campanha, mostrando o que o governo federal tem feito pela agricultura, os resultados eleitorais teriam sido melhores para ela e para a presidente Dilma no estado. Seu sentimento em relação a Osmar é de decepção, afirmou.

• Sobrou um pouco também para o prefeito Gustavo Fruet, seu aliado desde a campanha que o levou a vencer a eleição municipal de 2010. As votações de Gleisi e Dilma em Curitiba foram pífias. Culpa de Gustavo? Nem tanto: ele participou, foi a reuniões, gravou programas. Mas não poderia ter feito mais? – deixou implícita a pergunta.

Bem ao contrário da truculência de Requião – que nem um cão que habitava o Canguiri foi poupado de chutes de raiva quando ele (Requião, não o cão) considerava perdida a eleição de 2006 –, Gleisi foi até amena nas críticas e autocríticas. Mas deixou de considerar outras causas que deveriam ser lembradas.

Não foram só os "outros" os culpados pela magreza do resultado. A senadora deixou de apontar, por exemplo, que nem dentro do próprio partido encontrou companheiros que ajudassem a fermentar a sua candidatura, principalmente em Curitiba. Estiveram longe de fazer o esforço que deles se esperava, por exemplo, o deputado Dr. Rosinha, de "beiço" desde que foi preterido como candidato a senador e substituído por Ricardo Gomyde, do PCdoB. Não se viu também o líder do PT na Câmara, Pedro Paulo, à frente de ações. Muito menos o próprio presidente do PT municipal, Natalino Bastos, da mesma facção da vice-prefeita de Curitiba Mirian Gonçalves, que agiu mais modestamente na campanha do que quando estimulou a greve do transporte coletivo em fevereiro passado. Em suma: o partido esteve dividido desde antes do início da campanha.

Não é preciso nem falar dos prefeitos petistas e aliados do interior do estado, em sua maioria cooptados pelas forças do governo, como foi o caso do de Cascavel que, embora eleito pelo PDT, marchou com Beto Richa.

E há também antecedentes não mencionados por Gleisi e que precisam figurar na história de 2014: o PT não fez o mínimo esforço para repetir no Paraná a aliança que o PMDB fez no plano federal. As avaliações iniciais levavam à crença de que seria preferível ter Requião na disputa. Rejeitado e ultrapassado, o papel que estava destinado ao senador era só o de provocar um segundo turno, com a condição de que ficasse em terceiro lugar e que depois coubesse a Gleisi enfrentar Beto no mano a mano. Deu no que deu.

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