Uma discussão inútil e descabida se acentuou na Assembleia Legislativa depois das denúncias da Gazeta do Povo sobre o calamitoso descontrole administrativo na área da segurança pública: a culpa é do atual governo ou da gestão passada? No popular, é mais ou menos como perguntar: quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?
Quem era da situação nas gestões Requião e Pessuti se calava e agora ataca; e quem agora é da situação põe a culpa no passado e isenta o presente. Convenhamos, tal debate não leva a lugar nenhum porque o que importa é a solução dos problemas denunciados e a responsabilização dos que, no passado ou no presente, deixaram que as irregularidades acontecessem.
O líder do governo na Assembleia, deputado Ademar Traiano (PSDB), tornou-se mestre na arte de justificar as falhas do presente lembrando que elas já existiam no passado ou que são parecidas com as que ocorrem nos governos petistas. Mais ou menos como se fazia no tempo em que Requião, para explicar os próprios fracassos, culpava Lerner com o que o então lernista Ademar Traiano não concordava. Enfim, um círculo tão repetitivo quanto cansativo e improdutivo.
Todos já estamos convencidos que as culpas são cumulativas. Delas, ninguém escapa mas este não é o ponto central que deveria estar em pauta. Central mesmo é o fato de, após decorridos 18 meses da atual gestão, subsistirem ainda as mesmíssimas falhas de antanho, das quais, aparentemente, só tomou conhecimento menos por obra da oposição e mais em razão do trabalho invesgativo e isento da imprensa.
Há exemplos muito recentes. Reportagens mostraram que mandar dinheiro para custear delegacias fantasmas era prática corrente nos governos anteriores mas que permaneceu nesses 18 meses da atual gestão. Providências? Providências só as tomadas nas agitadas manhãs de dois domingos sucessivos, às pressas, diante das manchetes. Carros oficiais da polícia usados para fins impróprios? Ah! Isso já existia há muito tempo, exclamam os situacionistas! Mas foram precisos esses quase dois anos para que outra manchete pusesse a administração em marcha para apagar o incêndio.
Não era exatamente isso o que esperavam aqueles que votaram num "novo jeito de governar". Reconheça-se uma diferença: enquanto no passado preferia-se acusar a imprensa de "canalha" e nada fazer para corrigir os erros que ela denunciava (lembremo-nos do emblemático caso da desastrosa administração do Porto de Paranaguá), na atual, pelo menos, responde-se com a promessa de correção. Não deixa de ser um avanço.



