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Nunca antes na história desse estado um político foi tão assediado por tantos para ser candidato. Ofereceram-lhe tudo o que achavam possível, mas não exatamente o que ele queria. A teimosa insistência com que ele repetia as condições que impunha para aceder aos apelos prolongou o impasse por um tempo enorme, que só encontra paralelo na história das eleições paranaenses em 2006 – coincidentemente envolvendo o mesmo personagem.

A seu favor há um episódio que igualmente está registrado na história. Em 2006, porque lhe faltaram míseros 10 mil votos, acabou derrotado pelo reeleito governador Roberto Requião. A derrota, no entanto, teve sabor de vitória, principalmente porque o vencedor, transtornado, sentiu que sua vitória tinha o gosto amargo que a percepção do ocaso político provoca.

A derrota por tão pouco deu-lhe cacife para ser, de novo, candidato ao governo paranaense. Parecia uma unanimidade a sagração do seu nome para representar, na eleição de 2010, uma ampla frente de partidos e vastas correntes do eleitorado. Até que...

Até que o então prefeito de Curitiba, cujo PSDB integrava a frente partidária, teria rompido um suposto acordo pelo qual se comprometia a retribuir o apoio que recebeu para se reeleger em 2008 com 77% dos votos dos curitibanos. O chão desapareceu sob os pés do ex-candidato da unanimidade.

Mas a ausência de sustentação durou pouco. Imediatamente, o presidente Lula, que para bobo não serve, pessoalmente e por meio de gente de sua confiança, tratou de cooptar o candidato para seu lado. Oferecia-lhe uma aliança do PT com o PDT, garantindo-lhe tempo na televisão e esforço político (com sua participação direta) na campanha. Em troca, o candidato abriria espaço no seu palanque para a presidenciável Dilma Rousseff.

O candidato queria mais que isso. Desconfiado de que poderia ser deixado no meio da estrada, queria que a vice na sua chapa fosse ocupada pela petista Gleisi Hoffmann. Era a fórmula certa, acreditava, para amarrar o PT no compromisso de ajudá-lo a ser governador e não apenas, como temia, apenas servir de trampolim conveniente para eleger Gleisi senadora e Dilma presidente.

Mas havia mais uma exigência: que o PMDB compusesse também a mesma frente. Tarefa que parecia impossível, por duas razões: a) seria preciso domar o indomável Requião – atritado com o PT e com um de seus principais líderes no estado, o ministro Paulo Bernardo; e b) convencer o governador Orlando Pessuti a arquivar o seu direito natural de buscar a própria reeleição.

Impasses, indecisões, indefinições

Novos impasses a respeito desses quesitos abriram a chance para que o PSDB – que antes sabotara a pretensão da candidatura ao governo – lhe oferecesse vaga na chapa de Beto Richa para o Senado. Sinais de que o convite poderia ser aceito chegaram a ser emitidos em tons de certeza, para logo em seguida se desvanecerem.

Como a toda ação corresponde uma reação, a possibilidade de desistir do governo para tentar a reeleição fez com que os articuladores do lado petista se apressassem. E conseguiram preencher o rol de exigências que lhe foi apresentado. Com exceção para a posição de Gleisi Hoffmann – que permaneceu como concorrente ao Senado –, todas as demais condições foram atendidas. Até mesmo se conseguiu o que humanamente seria impensável – fazer com que um governador do estado, com a legitimidade que o cargo e a biografia lhe conferem, tivesse a estatura de um estadista para renunciar a um projeto pessoal em nome da unidade do grupo político a que pertence e em favor de um terceiro.

Estava tudo pronto nestes termos desde a tarde de quarta-feira. Faltava apenas a fumaça branca que, parafraseando as eleições papais, os cardeais da política nacional e regional pretendiam soltar para anunciar o fechamento do acordo. A certeza virou pó no dia seguinte, quando uma nova condição foi colocada à mesa: só sairia candidato se o irmão não fosse escolhido para ser o vice de José Serra.

Como tal probabilidade não se confirmara até quarta-feira à noite, a entrevista coletiva que estava programada para ontem, quinta-feira, foi cancelada. A viagem de volta de Brasília a Curitiba foi retardada em algumas horas. Um encontro no Palácio com o governador Pessuti também não estava confirmado até às 20h30 de ontem. Essa reunião serviria para desbastar outros motivos de contrariedade interna dentro da aliança PMDB-PT-PDT, dentre os quais a escolha do nome de um vice e dos suplentes dos candidatos ao Senado, além da conve­­niência ou não de lançar chapas conjuntas nas eleições de deputados federais e estaduais.

Resumo da história: o suspense continua.

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