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Olho vivo

Autofagia

Engana-se quem pensar que a autofagia paranaense é coisa recente. Em 1930, Getúlio Vargas hospedou-se no Grande Hotel Moderno, em Curitiba, antes de seguir para o Rio como líder da revolução que derrubou Washington Luiz – último presidente da República Velha – e já discutia quem poderia ser o novo governador do Paraná. Diante das divergências, Vargas não teve dificuldades para concluir: "No Paraná, não existem partidos. Existe briga de clãs, profundamente autofágicas". A frase está no livro A Formação Política de Getúlio Vargas, de Lira Neto.

Beleléu 1

Elevada à nobre condição de alternativa importante para o transporte urbano, a bicicleta vê dificuldades de se manter equilibrada se o governo estadual mantiver sua disposição de impor-lhe um novo regime tributário. Em Curitiba, as bicicletarias enquadram-se no "Simples", o que lhes permite pagar impostos menores e concorrer em preço com as grandes redes. Mas o governo quer fazer recair também sobre elas a tal "substituição tributária", modelo pelo qual os fabricantes entregam o produto já com a carga cheia de ICMS – isto é, as empresas "simples" deixam de auferir, na sua ponta, o benefício de pagar ICMS reduzido. O preço final do produto vai subir para o consumidor e a competição com as grandes redes vai para o beleléu.

Beleléu 2

Por causa dessa situação, as bicicletarias entregarão nesta semana ao governador Beto Richa uma carta em que pedem que o setor não entre na lista dos que serão submetidos à substituição tributária. Com argumentos semelhantes, mas preocupado com todos os setores, o G7 – grupo que reúne as grandes federações industriais – também já levou seu protesto à secretária da Fazenda, Jozélia Nogueira.

2013 acaba amanhã, Quarta-Feira de Cinzas. Passados os meses anteriores ao carnaval, a hora é de pensar em política, nas eleições de outubro. Mas sem exageros, porque antes ainda teremos Copa do Mundo para desviar a atenção dos políticos e da opinião pública. Restam uns poucos intervalos em que se poderá discutir assuntos (quiçá mais importantes) tais como se o estádio e as demais obras da Copa ficarão prontas ou não; se o padrão Fifa foi seguido à risca; se a passagem do ônibus vai subir; ou onde passaremos o feriadão da Semana Santa.

De qualquer forma há, neste 2014 que se inicia, um calendário implacável que deve ser cumprido: até o fim de junho, deverá ser definido o quadro de candidatos à Presidência, aos governos estaduais, à Câmara e Senado e às Assembleias Legislativas. Convenções partidárias se farão naquele mês – mas seguramente antes delas conchavos de bastidores estarão alinhavados em torno de nomes e de alianças. No Paraná, duas decisões já parecem definitivamente tomadas: Beto Richa (PSDB) se candidata à reeleição e disputa contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT). Mas todo o resto está ainda em aberto. Há dúvidas para todo lado:

- O PMDB fará aliança com Beto ou com Gleisi? Ou terá candidato próprio?

- Neste último caso, o partido aceitará lançar o senador Roberto Requião, ou seguirá um caminho mais "light", colocando na disputa o ex-governador Orlando Pessuti?

- Até que ponto o PMDB nacional fará valer sua vontade no Paraná caso seu presidente de honra, Michel Temer, se mantenha na vice de Dilma Rousseff?

- Enquanto no PSDB já se considera certo que seu candidato será o ex-desafeto senador Alvaro Dias, pelo lado do PT ainda não se sabe quem colocar na disputa. O partido anseia por uma aliança com o PDT e com a ainda duvidosa candidatura do ex-senador e atual vice-presidente do Banco do Brasil, Osmar Dias.

- A dúvida é: o pedetista Osmar vai se encorajar a concorrer diretamente contra o irmão Alvaro em busca da única vaga em disputa? Osmar cumprirá a promessa que fez a Gleisi de se definir até o próximo dia 20?

- O PSD levará até o fim o projeto de ter candidato próprio? Que, nesse caso, seria o empreiteiro e banqueiro Joel Malucelli? Ou, no fim das contas, seria mais um aliado de Beto Richa ou teria o deputado Eduardo Sciarra concorrendo a senador na chapa de Gleisi, caso Osmar refugue?

- Para que lado vão partidos menores, como o Pros, o PP e o PHS – todos sob domínio do secretário Ricardo Barros? Farão aliança com Richa ou arriscarão lançar o ex-prefeito de Maringá Silvio Barros para o governo?

São muitas dúvidas – todas a serem resolvidas só pelos políticos. O povo, nesta altura, não passa de um detalhe. E assim continuará sendo logo depois da eleição.

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