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Olho vivo

Bom negócio 1

A prefeitura anunciou semana passada, conforme esta coluna registrou, que decidiu acatar a recomendação do Tribunal de Contas de desconsiderar as pontuações obtidas pelos consórcios Recipar e Paraná Ambiental na concorrência para a implantação do Sipar – a indústria de reciclagem do lixo de Curitiba e região metropolitana. Os dois consórcios haviam se classificado em primeiro e segundo lugares, respectivamente, naquele certame. Na prática, a decisão da prefeitura coloca a construtora Tibagi (terceira colocada) na primeira posição.

Bom negócio 2

Pois bem: este fato foi o que bastou para que surgissem boatos de que, assim agindo, a prefeitura teria aberto as porteiras para um negócio à parte, em que todos sairiam ganhando. É o seguinte: os dois grupos desclassificados, pertencentes aos poderosos empresários Salomão Soifer (Recipar) e Joel Malucelli (Paraná Ambiental) estariam prontos para comprar parte do controle acionário da Tibagi. Assim, os três grupos ficariam donos do bilionário contrato.

Bom negócio 3

O diretor-presidente da Tibagi, Bruno Miraglia, desmente categoricamente o boato. "Das três, a Tibagi é a única empresa do grupo que tem experiência nos mais modernos sistemas de tratamento do lixo", afirma, e não há razão técnica ou econômica, segundo ele, para desistir do empreendimento ou de dividir a participação com os demais.

O governador do Paraná, Carlos Alberto Richa, é do PSDB – aliás, é o presidente do diretório estadual, licenciado no momento. Seria de se supor, portanto, que nesta eleições municipais, preparatórias para o grande embate de 2014, que o partido tivesse candidatos a prefeito nos principais colégios eleitorais do estado. Estranhamente, no entanto, os tucanos ou não disputarão o pleito ou, se tanto, figurarão como coadjuvantes.

Começa pelo maior colégio eleitoral, Curitiba, de reconhecida importância política nacional. Aqui, o máximo que está reservado ao PSDB é ocupar a vice na chapa de reeleição do prefeito Luciano Ducci, do PSB, isto se não se configurar mais conveniente que a posição seja ocupada por representante de outra legenda que dê mais consistência à candidatura apoiada por Richa. Nesse caso, por exemplo, cogita-se o nome do deputado Ney Leprevost, do PSD, cuja principal missão seria a de minar a base classe média que pende em favor de Gustavo Fruet.

O PSDB também não deve lançar candidatos em Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Guarapuava, Foz do Iguaçu e Paranaguá, assim como em quase todos os municípios da região metropolitana, dentre os quais alguns de expressivo eleitorado, como São José dos Pinhais, Colombo e Almirante Tamandaré. A exceção, talvez, acabe sendo Araucária.

Somados a Curitiba, todos esses grandes colégios correspondem a quase de 3 milhões de votantes, ou cerca de 40% do total de eleitores do estado. Se se levar em consideração que no restante dos 399 municípios paranaenses o PSDB também não terá nomes próprios na disputa, conclui-se que se dá no Paraná um fato raro na política nacional: aqui, o governador abdica de fortalecer a legenda a que pertence e preside, condenando-a ao encolhimento.

Tal constatação passa longe de qualquer suposição quanto a um eventual enfraquecimento político de Beto Richa – mas demonstra sua preferência por estratégias de alianças com potencial de agregar vantagens aos seus projetos pessoais em detrimento dos projetos nacional e estadual da legenda. O caso mais típico é o de Curitiba, onde, embora o partido tivesse candidato próprio (Gustavo Fruet), optou por um aliado pessoal de outra sigla, Luciano Ducci, cujo PSB figura na base do governo federal, ao qual o PSDB faz oposição.

Quem faz a análise constante do parágrafo anterior não é o colunista. É nada menos do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em conversa com um pequeno grupo pluripartidário que o visitou em São Paulo na semana passada e do qual fazia parte um conhecido parlamentar paranaense não tucano.

Fundador e presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique diz imaginar que Beto Richa, ao abandonar a legenda e montar um amplo arco de "amigos" nas prefeituras, pode até ter êxito em seu projeto de reeleição em 2014, mas fatalmente prejudicará a intenção tucana de eleger o sucessor de Dilma Rousseff. Sem fortalecer o PSDB no Paraná e com uma constelação de partidos que não guardam identidade com a oposição e com o objetivo de recolocar um tucano na Presidência, Richa estaria prestando um mau serviço à causa nacional, teria complementado o ex-presidente, segundo o relato da fonte.

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