Segundo consta, prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Chutar o pau da barraca, por outro lado, pode ser fatal, principalmente para quem ainda estiver dentro dela. É com cuidados desse tipo que o PT paranaense decidiu tratar de política eleitoral com o governador Roberto Requião a partir de agora.
Tudo porque percebeu o tamanho da mágoa que invadiu o espírito de Requião contra o ministro Paulo Bernardo. Diante disso, o mais recomendável é não ir com tanta sede ao pote. O governador ficou aborrecido com uma declaração do ministro que nem novidade era a de que ele deve a Lula suas duas últimas eleições. A última delas, aliás, contrariando outro ditado popular, segundo o qual marmelada na hora da morte mata.
Pois foi na última hora, véspera da eleição de 2006, que o comício de Lula na Boca Maldita certamente deu a Requião no mínimo os míseros 10 mil votos com que derrotou Osmar Dias. Aliás, Requião nem no palanque estava achava que Lula espantaria eleitores e preferiu se mandar no mesmo dia para Umuarama, onde, aliás, perdeu para Osmar Dias.
O governador ficou muito magoado também com a manifesta vontade do ministro de fazer o quanto antes a aliança do PT com o PDT, com Osmar na cabeça estratégia que o presidente Lula traçou para turbinar a candidatura de Dilma Rousseff no Paraná. Requião sentiu-se atropelado pelos acontecimentos. Como diz o ditado, não há ciúme pior do que ciúme de homem.
O ciúme, assim como a mágoa, segundo Shakespeare, "é um veneno que você toma esperando que a outra pessoa morra." É mais ou menos isso que Requião sente a tal ponto que sequer, também desta vez, estará em Curitiba para recepcionar o presidente Lula, hoje, que vem para a posse do desembargador Ricardo Fonseca no Tribunal Regional do Trabalho.
Acontece, porém, que o PT considera que o PMDB do Paraná, com Requião à frente, é importante para completar a estratégia. É melhor ter os dois na mão do que deixá-los voando na direção do PSDB de José Serra e Beto Richa, pensam os petistas.
Não por outra razão é que a presidente estadual do PT, Gleisi Hoffmann, foi procurar pessoalmente o governador Roberto Requião no Palácio. A pretexto de convidá-lo para uma audiência pública sobre o pré-sal (que o governador não aceitou), Gleisi atuou como algodão entre os cristais quando, aproveitando a ocasião, tratou de política com ele.
Segundo relatou depois em uma entrevista para a rádio Banda B, Gleisi disse ao governador que, ao contrário da interpretação que ele fez das palavras de Paulo Bernardo, o PT ainda não fechou nenhuma aliança com o PDT de Osmar Dias. "Falamos para ele que queremos caminhar com ele. É um companheiro já de muito tempo de caminhada com o PT, temos várias parcerias e temos de discutir o que é melhor para o Paraná, ter um projeto para o estado alinhado ao projeto nacional."
Não se sabe se o governador ficou convencido. Mas o mais provável é que, por mais tempo ainda, continue fazendo o mesmo jogo pendular que, até a última hora, fez em 2006 ora mostrava pendores para o tucano Geraldo Alckmin, ora para Luiz Inácio. O tempo é o senhor da razão, diria Collor.



