Sir Isaac Newton físico, matemático, astrônomo, alquimista e filósofo inglês (1643-1727) é autor de algumas "leis" universais incontestáveis. É dele, por exemplo, a lei da gravidade. Outra é aquela que diz: "Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo".
Pois bem: a Urbs não levou em consideração essa verdade científica e encomendou à empresa gaúcha Neobus 60 biarticulados de largura pouco maior do que a dos existentes que trafegam pelas canaletas de Curitiba. Mais "modernos e espaçosos" e ao custo de R$ 1 milhão cada um, eles deveriam servir à linha Pinheirinho.
Quando chegaram a Curitiba descobriu-se, porém, que, transitando em sentidos opostos, era inevitável o risco desses novos ônibus "rasparem" um no outro. A solução seria um deles parar rente ao meio-fio para que o outro, devagarinho, continuasse seu caminho único modo de contornar a "lei de Newton" sem risco à segurança dos passageiros, dos pedestres e dos próprios veículos.
Como tal solução seria mais um fator para aumentar a ineficiência do sistema, o jeito foi transferir os ônibus "largos" para trajetos onde coubessem. Dos 60 desse tipo encomendados (e pagos pelas concessionárias), 58 encontraram destino alternativo viável, mas dois deles ainda acumulam poeira na garagem da empresa Redentor.
Toda essa história é só para lembrar que, hoje, o Sindicato Empresas do Transporte Coletivo (Setransp) apresenta à imprensa um diagnóstico sobre a rede integrada elaborado por uma equipe da Universidade de São Paulo (USP). E que constatou, além desse problema dos ônibus largos demais, outras distorções extracontratuais que teriam sido criadas após a licitação de 2011.
Essas distorções segundo informações do relatório antecipadas à coluna foram as principais responsáveis pela elevação da tarifa técnica do sistema de R$ 2,87 para no mínimo R$ 3,10. Atualmente, o passageiro paga R$ 2,60 e o governo estadual subsidia a defasada diferença de 27 centavos R$ 60 milhões em um ano.
Para "empatar" despesa com receita, a passagem, segundo os empresários, teria de subir para R$ 3,10. Mas se Gustavo Fruet quiser decretar aumento menor, alguém terá de pagar a diferença e em valor muito maior do que o atual subsídio concedido por Beto Richa em 2012 ao então prefeito (e candidado à reeleição) Luciano Ducci. Richa garantiu a Fruet pagar até maio os R$ 26 milhões que restam da conta que assumiu no ano passado. E depois? E depois ninguém sabe. Ou sabe, se Richa não quiser se desgastar com o milhão de passageiros-eleitores que usam ônibus todos os dias em Curitiba.
Quando alguém joga qualquer coisa para cima, a gravidade costuma devolvê-la sobre a cabeça de quem a jogou. Foi o que Newton constatou ao descobrir que a maçã que caiu da árvore e lhe atingiu foi impulsionada pelo que denominou de "lei da gravidade". Em outras palavras: Richa não pode revogar a lei da gravidade depois de ter criado o subsídio.



