O prefeito Gustavo Fruet não mostra para ninguém as dezenas de cadernos em que, diligentemente, anotou seu dia-a-dia à frente da administração nos últimos quatro anos. Não sabe ainda o que fará com eles após transmitir o cargo ao sucessor, Rafael Greca, em 1.º de janeiro: pode tanto seguir o exemplo do ex-presidente Fernando Henrique, que transformou seus diários em livros, como pode também guardá-los em segredo ou, ainda, editar apenas as melhores passagens.
Revela apenas o conteúdo da primeira página do primeiro caderno de seus “diários secretos”, que registram com bom humor dois dos primeiros fatos ocorridos no primeiro dia de trabalho do mandato, 2 de janeiro de 2013.
Está lá anotado que já de manhã a primeira ligação que recebeu em seu celular particular aparecia com o prefixo 061. Atendeu imaginando tratar-se de algum amigo de Brasília que desejava parabenizá-lo. Enganou-se: era um gerente da operadora Tim avisando-o que no dia seguinte seriam cortadas todas as linhas da prefeitura se, no dia 3, não fossem pagas as faturas atrasadas de R$ 500 mil deixadas pelo antecessor, Luciano Ducci. Não teve jeito: Fruet mandou pagar.
A primeira audiência também está anotada. Eram dois religiosos que, após os salamaleques iniciais, foram ao assunto que lhes interessava: iriam fechar no dia seguinte os restaurantes populares – mantidos em convênio com um organismo de ação social da Igreja – se a prefeitura não dobrasse para R$ 8,00 o valor do subsídio por prato de comida servido à população a R$ 2,00.
Não seria uma boa maneira de iniciar a gestão se, já de cara, os emblemáticos restaurantes fechassem as portas e deixassem milhares de pobres sem comida barata. Negociações resultaram infrutíferas. Os restaurantes continuaram funcionando.
Nos últimos dias, Fruet abriu mais um caderno dos seus diários. Ainda tem um mês e meio para relatar coisas curiosas e certamente assombrosas que ocorrerão neste final de gestão e durante o processo de transição da administração para o prefeito eleito. Conhecerá, por exemplo, até onde ia o grau de fidelidade dos que trabalharam com ele nos últimos quatro anos.



