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Em meio aos justificáveis e sinceros lamentos que a morte trágica de Eduardo Campos despertou em todo o país, ontem, foi impossível que já nas primeiras horas se iniciassem discretos movimentos em torno de sua substituição como candidato do PSB à Presidência da República. Ainda que se devesse devotar ao ex-governador de Pernambuco luto e silêncio mais prolongado, questões de ordem prática impedem que já nas próximas horas tenhamos a confirmação de Marina Silva como sua substituta natural nesta disputa. Se se confirmar a escolha da ex-ministra do Meio Ambiente, um novo cenário político se avizinha com repercussões político-eleitorais também no Paraná. E já se pergunta: a quem mais interessa a participação de Marina Silva no pleito estadual? Que perdas e ganhos os atuais candidatos irão contabilizar?

Comecemos por lembrar que Marina, na época concorrendo pelo PV e se apresentando com um perfil socialista-ambientalista capaz de afugentar grande parte do eleitorado mais conservador do estado, conquistou nada menos de 17% dos votos do Paraná na eleição presidencial – pouco menos do que os quase 20% que obteve em nível nacional. Era vista, descontados os motivos para que boa parte da população a rejeitasse, como uma autêntica terceira via. Sua presença atraía os contrários à bipolaridade PT-PSDB. E tanto fez que acabou levando a eleição daquele ano a ser decidida no segundo turno, entre a petista Dilma e o tucano José Serra.

Portanto, a ex-ministra – que no ano passado, diante do simples fato de ser potencial candidata de novo ao Planalto já aparecia nas pesquisas em segundo lugar, suplantando Aécio e Campos – tem, sim, capital político para mudar o quadro atual. Desgostosa com o PV, tentou constituir um novo partido, a Rede, pelo qual pretendia se lançar. Mas ao não conseguir institucionalizar sua nova legenda, acabou formando com Eduardo Campos uma espécie de "parceria impossível".

Tão impossível que pouco prestígio acrescentou ao novo companheiro (pelo contrário) e, ao mesmo tempo, perdeu ela própria grande parte da seiva popular que a sustentava. Agora, sozinha e aparentemente única opção viável do PSB para ocupar o lugar do falecido líder, Marina tem outra vez a chance de mostrar cara e personalidade próprias. Não é improvável que reconquiste boa parte dos seus antigos adeptos e admiradores e recupere substância para, novamente, apresentar-se como a tal terceira via que considerável parcela do eleitorado reclama. Até ontem, com as candidaturas firmadas de Dilma, Aécio e Eduardo Campos considerava-se a possibilidade de a presidente se reeleger já no primeiro turno. Mas agora, com a mais que provável presença de Marina na disputa, os analistas apostam que o segundo turno será fatal.

E o que o Paraná tem a ver com isto? Tem o seguinte: Roberto Requião que, muito a contragosto encontrava-se "pendurado" em Dilma mas negava-lhe apoio e palanque no primeiro turno, pode agora se valer de Marina Silva para diferenciar-se, sob este aspecto, da petista-dilmista Gleisi Hoffmann. Aliás, lembre-se que Requião tem como vice em sua chapa a presidente estadual do PV, deputada Rosane Ferreira, amiga e antiga aliada de Marina. Ao mesmo tempo, Requião e Marina aproximam-se até mesmo do ponto de vista ideológico – o que pode ser, alternadamente, um bem e um mal para sua candidatura. Se já desperta pouca ou nenhuma simpatia junto ao eleitorado vinculado ao poderoso agronegócio paranaense, a tendência é que, juntando-se a Marina, perca ainda mais. Em compensação, pode se beneficiar com a conquista de boa parte dos votos dos ambientalistas e de alguns segmentos evangélicos.

Já o tucano candidato à reeleição, governador Beto Richa, mantinha-se muito à vontade tanto ao lado de Aécio, do seu partido, quanto do socialista Eduardo Campos. Em visita ao Paraná, no mês de junho, o presidenciável garantiu apoio e liberou seu partido para formar sua aliança com Beto. Em troca, Beto se dispunha até mesmo a dar-lhe oportunidades no estado. Com Marina, o melhor que o governador tem a fazer é se distanciar dela.

A candidatura de Marina pode também, é verdade, exaurir algumas das forças que hoje militam em favor do PT e de Gleisi Hoffmann. À candidata petista caberá agora, mais até do que antes, redobrar os esforços para cumprir uma de suas principais missões nesta disputa, qual seja, a de garantir a maior votação possível para Dilma no Paraná, agora sob maior ameaça do que quando Eduardo Campos era o candidato.

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