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"É a transparência total de toda e qualquer ação de governo."

Do líder do governo, deputado Luiz Cláudio Romanelli, enaltecendo a aprovação do sistema de controle interno, muito embora, na Assembléia, boicote a aprovação de pedidos de informação.

Não se sabe se tudo foi concebido para rir ou para chorar, mas não há a menor dúvida de que a "escolinha" de ontem chegou ao ápice do mau gosto e da falta de seriedade com que atualmente se trata a coisa pública no Paraná. O pândego papel desempenhado pelo "professor" só não pode ser considerado insuperável porque é impossível saber o que o futuro ainda nos reserva.

Apesar do ridículo, há método em tudo o que se viu ontem nas duas horas do espetáculo transmitido pela Televisão Educativa (?) do Paraná. Método que, em si mesmo, peca pela falta de originalidade. Muitos outros políticos de precário conceito, ao longo da história universal, já o utilizaram.

Trata-se, este método, da manjadíssima "cortina de fumaça" que governantes em dificuldades costumam lançar para desviar a atenção do público dos problemas que ocorrem dentro de suas próprias cozinhas.

O teatro de ontem pode ser dividido em quatro atos – todos justificados pela imperiosa necessidade do governo de livrar-se das agruras que o acometem.

Primeiro Ato

O distinto (embora diminuto) público ouviu os costumeiros impropérios contra a imprensa, sempre ávida – segundo o diretor da peça – a embolsar verbas da propaganda oficial. "A imprensa é chantagista", vituperou o diretor. O governo, sério e honesto, não se submete e, por isso, cortou todos os recursos para a área.

Fumaça. Na verdade, o que se quer é encobrir, não dar explicações sobre o relatório do Tribunal de Contas que apontou grossas irregularidades no exagerado dispêndio do governo em propaganda – revelado anteontem pelo deputado Marcelo Rangel. Nos primeiros seis meses de 2006, o governo gastou R$ 50 milhões em propaganda, muito embora o Orçamento previsse R$ 13 milhões para o ano inteiro.

Segundo Ato

A estrela foi o secretário sub-judice da Segurança, Luiz Fernando Delazari. Embora aplaudido pela claque presente, teve maçante desempenho na demonstração do conjunto de atos de corrupção do governo Jaime Lerner. Os casos de assalto ao dinheiro público teriam somado R$ 5 bilhões.

Toda corrupção é indesculpável, mas é sempre preferível falar da corrupção dos outros para não precisar explicar a própria. Assim, quem sabe, o público esqueça o que acontece na Sanepar; deixe no limbo o caso Ceasa; não pergunte mais nada sobre os aditivos da secretaria de Obras; não mencione a via-sacra de irregularidades na secretaria do Trabalho; evite esclarecimentos sobre o que acontece no Detran; não levante suspeitas sobre planos diretores na secretaria de Desenvolvimento Urbano; finja que nada sabe sobre notas fiscais frias; etc. etc. etc. Quanto já soma tudo isso? Nenhum esclarecimento.

Terceiro Ato

É claro que é preciso dar um tom épico ao espetáculo. Nesse ponto, o proscênio é tomado por quadros semelhantes aos encontráveis na literatura da cavalaria andante. Destaca-se aqui a coragem do cavaleiro em defesa de grandes valores, ainda que seja preciso enfrentar gigantes travestidos em moinhos de vento. No caso, ele apareceu lutando contra os que tentam enriquecer à custa dos oprimidos e dos que querem explorar as nossas riquezas.

Assunto é o que não falta. Os de ontem foram as multinacionais que pretendem destruir o meio ambiente e abrir minas de ferro na Serra do Mar e o laboratório Bayer, que se recusa a dar desconto em remédios que o governo quer comprar. Para embalar esse projeto nacionalista, nada melhor do que uma "aula" do professor Emir Sader, cujo discurso os temíveis neoliberais que assistiram à "escolinha" acharam de um atroz anacronismo.

Nada, porém, foi dito quanto aos remédios que, embora de distribuição obrigatória por parte do governo, só chegam aos pacientes que recorrem à Justiça. Nada sobre o decreto que coloca nas mãos do governador poder de vida e morte sobre quem precisa desses medicamentos. E também nada sobre o precário programa de reposição florestal e de defesa do meio ambiente.

Quarto Ato

Aqui, o clímax, o grand finale da tragicomédia: o sorteio do ônibus de brinquedo entre os seis deputados presentes na platéia. Pretexto dado para a realização da brincadeira: aproximar os deputados da "escolinha" para que tomem conhecimento de tudo quanto este governo está fazendo de bom para o Paraná. Só assim a Assembléia poderia deixar de fazer seus pobres debates e a oposição de dizer bobagens. Tudo em nome do bom relacionamento e da transparência.

No fundo, o que se quis foi ridicularizar a Assembléia. Nesse ponto, o deputado oposicionista (?) Felipe Lucas (PPS) deu sua parcela de colaboração, comparecendo ao teatro, ganhando o "prêmio" e mostrando-se agradecido e risonho.Já quanto à tal transparência, melhor que ela se desse pela aprovação e resposta aos pedidos de informação que os deputados endereçam ao Executivo. Sobre isso, nenhuma palavra.

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