De um policial civil que leu ontem "O caos na Polícia Científica", a coluna recebeu por e-mail o seguinte comentário: "Sou policial civil e gostaria de esclarecer alguns fatos: o caos não é na Polícia Científica, o caos está em toda a segurança pública do estado do Paraná. Infelizmente o que ocorre na Científica é muito pior do que se possa imaginar: quando há um furto ou um roubo, um perito deveria comparecer ao local para colher as digitais e possíveis provas, mas como é sabido, isso não acontece."
O policial que escreveu mantido no anonimato para que não sofra as represálias de que colegas seus já foram vítimas dá mais uma pista sobre as razões da baixa taxa de sucesso na elucidação dos crimes. Não se tira digital nos lugares assaltados? Não é esta uma atitude primária, rudimentar, que deveria ser rotineira?
Deficiências aumentam o desprestígio e favorecem a criminalidade
Fica claro, assim, entre tantas outras razões, o porquê da descrença da população na segurança pública. A maioria das vítimas sequer se aventura a procurar uma delegacia para registrar um B.O.. Primeiro, porque sabe que o resultado será certamente nulo; segundo, porque teme uma eventual vingança dos autores do delito; terceiro, porque o atendimento na delegacia é simplesmente péssimo: ora faltam compuradores, ora o sistema está fora do ar, as instalações são péssimas e desconfortáveis, o ambiente é pesado, os funcionários, impotentes para resolver o problema.
Quando agentes e investigados saem a campo, enfrentam perigos para os quais não encontram proteção. Os poucos e insuficientes coletes à prova de bala que têm à disposição estão, em sua maioria, com seu prazo de validade vencido. Sair às ruas nessas condições para arriscar a vida por R$ 1, 7 mil e um seguro merreca para a família? Ainda assim, muitos enfrentam essa situação que só as autoridades não veem.
O resultado final dessa soma parcial de descalabros é o crescimento da impunidade. Segundo relatório oficial da Secretaria da Segurança disponível para consulta no site da própria pasta foram registrados (registrados!, frise-se) quase 200 mil casos de furtos e roubos no Paraná em 2008. Isso significa que, de cada grupo de 100 mil paranaense, pelo menos 2 mil foram furtados ou roubados no ano passado. Frise-se de novo: esses dados se referem exclusivamente ao casos registrados, quando se sabe que a grande maioria não é.
O relatório é omisso quanto aos resultados obtidos para devolver os bens às vítimas e/ou identificar e prender os delinquentes. Mas, se nos casos de homicídios crime, portanto, muito mais grave só 30% dos assassinos chegam a ser identificados (mas não necessariamente presos), o que dizer dos roubos e dos simples furtos?
O fruto dessa cadeia de ineficiências só pode ser o desprestígio da polícia junto à população, a impunidade generalizada e o crescimento exorbitante da criminalidade. É muito grave a situação.



