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Que [piiiii] está acontecendo? Nunca antes na história desse país se viu tanta trapalhada quanto nos últimos dias. Elas mais serviram para aumentar a crise do que para indicar o caminho da saída. Se, de um lado, isto é mau, de outro pode ser um bem, pois quanto mais grave for a crise, mais próxima pode estar a solução.

Na semana que passou, o primeiro ato da política do salve-quem-puder levou a presidente Dilma Rousseff a instalar um gabinete da Operação Lava Jato dentro do próprio Palácio do Planalto, transformando-o num braço da “República de Curitiba” e pondo a seus cuidados o ex-presidente Lula da Silva.

O argumento para nomear Lula ministro-chefe da Casa Civil, tosco na origem, se mostrou desastrado na sequência. Imaginavam os “çábios” do Planalto que a habilidade do ex-presidente servisse para socorrer o moribundo governo. Deu-se o contrário: diálogos telefônicos mostraram a verdadeira face da manobra – isto é, a de livrar Lula do perigo de se ver trancafiado numa cela da Polícia Federal em Curitiba.

A [piiiii] das escutas revelou que a intenção era esta mesmo – como mostrou, sobretudo, o desespero do presidente do PT, Rui Falcão, após o promotor do MP paulista denunciar Lula à Justiça e pedir sua prisão, ao apelar ao então chefe da Casa Civil, Jacques Wagner, que ajudasse a apressar a nomeação do ex-presidente para um ministério. Ficou clara que a prioridade era a de garantir o foro privilegiado.

A maior [piiiii] foi aquela que provocou o auge da crise – a divulgação do telefonema entre o investigado Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. A ligação foi gravada e levada a público bem depois de o juiz Sergio Moro ter determinado o fim das interceptações. Ainda assim, ele liberou o espantoso áudio, no qual o ex-presidente desfiou palavrões que – em respeito às crianças que estavam nas salas – as emissoras de tevê encobriram com o indefectível efeito sonoro do piiiii.

Na conversa, com Lula já nomeado chefe da Casa Civil, os piiiii foram endereçados ao Judiciário, ao Ministério Público e ao Congresso. Foram ofensivos às instituições e a alguns devidamente nominados representantes dos poderes da República.

O conteúdo desrespeitoso e sintomático das verdadeiras intenções da nomeação foi o que menos importou. Em seu lugar, passou-se a discutir se teria sido legal ou não o ato de Moro que permitiu a “publicização” – para usar o termo aplicado por Dilma – da escuta telefônica. Inconformada, Dilma prometeu tomar as “providências cabíveis” contra os responsáveis pelo vazamento – uma pouco velada ameaça ao juiz federal de Curitiba condutor da Lava Jato.

Empossado apressadamente na quinta-feira (17), um dia após a divulgação do escandaloso grampo, Lula durou 40 minutos no cargo. Ações populares pipocaram no país inteiro e três juízes singulares concederam liminares anulando a nomeação. Duas das liminares foram derrubadas em instância superior, mas uma delas ainda vigia na noite de sexta-feira (18) e mantinha Lula afastado do cargo. A pá de cal veio com o despacho do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que confirmou em liminar a nulidade da nomeação de Lula. O plenário do STF poderá ainda mudar esta decisão.

No âmbito judicial pode dar qualquer coisa, contra a favor da posse de Lula. Mas a esta altura nada serve para mudar o tamanho da crise. Principalmente porque Lula, que tinha sido oficialmente chamado para debelá-la, já não detém força moral para dialogar com aqueles que poderiam baixar a temperatura e salvar o governo da destituição.

Ao contrário, quando atacou o Judiciário e outros protagonistas importantes da cena política, fechou canais de diálogo. A base aliada no Congresso diminuiu; o vice Temer e seu PMDB se distanciaram ainda mais; o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, apressou o processo de impeachment. Como (e se) Lula vai lidar com este quadro adverso não se sabe. E se uma das tarefas dele era influir na recuperação da economia, esta missão se tornou ainda mais improvável.

Mas que [piiiii]!

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