Tem gente que nunca teve infância ou adolescência. Mas quem passou por essas fases risonhas da vida deve se lembrar que as brigas começavam depois de um cuspir primeiro no chão era o sinal de uma provocação irrecusável para que o outro aceitasse partir para o desforço físico. É mais menos isso o que está acontecendo entre Beto Richa e o ex-deputado Gustavo Fruet: um está esperando que o outro cuspa primeiro.
Beto espera que Gustavo se desligue do PSDB para se sentir livre para apoiar a reeleição de Luciano Ducci, o candidato de sua preferência para a prefeitura de Curitiba. Enquanto isso, Gustavo espera que o governador, que é presidente estadual do partido, diga logo qualquer uma dessas três coisas: a) que se declare neutro; b) que o apoiará; ou c) que manterá mesmo sua disposição de levar os tucanos a marchar com o atual prefeito, do PSB.
Como até agora ninguém deu a primeira cusparada, permanece a agonia da indefinição: nem Gustavo Fruet anuncia sua desfiliação do partido nem o governador fala qualquer coisa. Quem tem falado aparentemente em nome de Beto é o vice-presidente tucano, deputado Valdir Rossoni, que ontem repetiu o que disse há dez dias: quem tem de falar primeiro é Gustavo. "A bola está com ele", informou.
Por isso, disse Rossoni, o governador e o partido só se pronunciarão após o ex-deputado se decidir. "Se ele entender que deve ficar no PSDB, ele terá todas as sinalizações necessárias. Depois é que tomaremos as providências", insinuando a possibilidade da declaração pública de neutralidade de Richa e a consequente garantia de que o PSDB dará a Gustavo a vaga de candidato.
Como nas velhas brigas da saída do colégio, há nesta também um grupo de espectadores e torcedores, ávidos por uma decisão. É o caso da turma do PT, que torce para que Gustavo saia logo do PSDB para, apoiando-o para a prefeitura, começar a pavimentar a participação da ministra Gleisi Hoffmann na disputa pelo governo estadual em 2014.
O PT, embora tenha candidatos próprios dispostos a concorrer (os deputados Tadeu Veneri e Rosinha), enxerga como muito mais estratégico para seus planos firmar compromisso com Gustavo já no primeiro turno. Os petistas estão dispostos a integrar a aliança partidária que Gustavo conseguir montar caso se decida por essa alternativa.
A ideia não desagrada a Gustavo. Com o PT nessa frente, estaria resolvida uma das suas principais preocupações a de assegurar tempo razoável na propaganda eleitoral gratuita de rádio e televisão, sem contar com a força política que o governo federal pode dispensar à sua candidatura.
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Ontem, houve novas sinalizações de que Gustavo está muito próximo de levantar voo do ninho tucano, sem mais esperar a eventual manifestação do governador. E o destino mais provável será em direção do PDT de Osmar Dias. O ex-senador reafirmou que seu partido está pronto para recebê-lo, mas advertiu: "O Gustavo só não pode montar a mesma base de apoio que tive em 2010. Tem de se livrar de algumas pragas", disse ele em visita à Assembleia.
Seria uma referência ao PMDB de Roberto Requião, de quem herdou a rejeição na eleição para o governo?



