Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Celso Nascimento

Ratinho e o retrato de Dorian Gray

Não está fácil entender a nova estratégia adotada pelo candidato Ratinho Jr. nesta campanha do segundo turno. No primeiro, visando a consolidar a preferência natural que os bairros periféricos da região sul da cidade devotavam a seu nome, fazia uso constante de sua proximidade com o PT. Dizia-se não só da base do governo federal como também afirmava aconselhar a presidente Dilma sobre o que fazer diante dos grandes problemas nacionais.

No segundo, porém, para enfrentar Gustavo Fruet, candidato que oficialmente tem o apoio do PT, Ratinho mudou seu discurso. Aliás, de forma mais competente do que tentou fazer o derrotado candidato Luciano Ducci para combater a incoerência de Gustavo. No rádio e na tevê, Ratinho passou a condenar o mutável comportamento do adversário: uma hora está de um lado, na outra hora está de outro lado, diz o humorista que fala em nome de Ratinho. "Dá pra confiar em gente assim?", pergunta com ar patético o mesmo humorista. Em outro comercial, a campanha de Ratinho completa: as administrações de prefeitos do PT são as mais rejeitadas.

Realmente, virou uma geleia geral que deixa o povo pasmo, pois, embutido na mesma mensagem, está o outro lado da moeda: Ratinho Jr. também mudou de lado? E, sendo assim, dá para confiar nele?

A mudança de postura traz ainda outro aspecto notado pelos mais atentos. Chama-se oportunismo. Se o adversário que esperava enfrentar no segundo turno fosse Luciano Ducci, Ratinho Jr. com certeza continuaria apregoando suas ligações com Lula, Dilma e o PT, partido do qual foi parceiro na Câmara.

Como a surpresa sobrenatural das urnas pôs-lhe à frente outro candidato, passou a ser conveniente e oportuno bater na aliança do adversário com o PT. O oportunismo e a conveniência de ocasião, como se sabe, são práticas das mais comuns e condenáveis da velha política brasileira. Lembra, por exemplo, o antigo ranço que um dia fez de Sarney presidente do Brasil.

Ora, isto definitivamente não combina com quem se apresenta como o "novo" na política, o independente combatente das velhas práticas. De uma hora para outra, pois, Ratinho Jr. "envelheceu". À moda do personagem criado por Oscar Wilde, o candidato talvez se veja agora como o narciso Dorian Gray, que, à medida que tomava conhecimento das cruas realidades da vida, mantinha a mesma idade mas percebia que seu retrato na parede envelhecia.

Se continuar assim, periga também de, ao se olhar no espelho pela manhã, veja refletida a imagem de Requião, símbolo do atraso e renitente adversário de "novas ideias", agora aliado.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.