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Na prática, a teoria é outra

Diferenças entre o discurso e a prática foram anotadas na tarde da última sexta-feira, no Porto de Paranaguá. O governador Roberto Requião, ao inaugurar o terminal de fertilizantes, exaltava a luta que desenvolveu para tirar o porto do domínio dos privatistas. Até descerrou uma inusitada placa em homenagem ao irmão Eduardo, que, como superintendente da Appa, teria sido a extensão do seu braço para cumprir a tarefa.

No mesmo momento, porém, os operadores portuários recebiam a notícia de que o silão público de cereais acabava de, na prática, ser privatizado. Sua administração passará a ser feita, a partir de hoje, por uma empresa privada, a Tibagi Serviços Marítimos, que cobrará dos usuários um pedágio de R$ 0,20 por tonelada movimentada no silão.

O discurso contra os privatistas que, segundo Requião, pretenderam tomar o porto de assalto, segue a mesma linha bolivariana aplicada em outros casos. Por exemplo, contra o pedágio das rodovias: se elas foram construídas com dinheiro público e são patrimônio da sociedade, não se pode entregá-las a particulares interessados em obter lucros.

Na prática, o mesmo discurso não se aplica no caso de várias instalações estratégicas do Porto de Paranaguá, bens públicos construídos com dinheiro público. É o caso do próprio silão de cereais e de várias outras instalações – dentre as quais, para citar mais um exemplo, o terminal de álcool, no qual o governo investiu R$ 15 milhões. Embora defeituoso e com as operações suspensas pela justiça, também ele foi entregue à iniciativa privada.

Em si mesmo, não se trata de um mal. O mal é que a teoria na prática é outra.

Se dependesse do presidenciável tucano José Serra, o senador Alvaro Dias poderia ser antecipadamente declarado candidato do PSDB ao governo do Paraná. É tudo com que mais sonha e trabalha o governador paulista nesses tempos de preparação para o grande embate de 2010.

Fontes próximas ao governador paulista revelam que a estratégia de Serra teria o poder de matar vários coelhos com uma só cajadada. Eis o raciocínio que o estaria levando a redobrar a defesa da candidatura de Alvaro em todas as instâncias sobre as quais tem influência:

- Eliminaria a possibilidade de o irmão senador Osmar Dias, do PDT, também se lançar candidato.

- Com isso, a adversária Dilma Roussef veria frustrados os esforços que Lula e o PT desenvolvem para construir a dobradinha com Osmar.

- Sepultaria mais cedo o sonho do prefeito Beto Richa de lançar-se em 2010. Sua permanência na prefeitura de Curitiba seria importante para evitar que o poder fosse transferido ao vice Luciano Ducci, do PSB, partido aliado ao PT no plano federal.

- A candidatura de Alvaro facilitaria também uma aproximação com Requião. A ele, em troca do seu bom comportamento, se pode prometer não atrapalhar sua eleição para uma das duas vagas de senador.

- Prevê-se também que a maioria do PMDB paranaense (deputados e prefeitos) poderia ser facilmente atraída para apoiar a dobradinha José Serra-Alvaro Dias.

- O projeto iria mais longe: envolve convencer Orlando Pessuti a desistir da própria candidatura, caso contrário poderia ser vítima de um humilhante processo de cristianização. Alvaro Dias, segundo consta, seria o principal encarregado de cumprir essa tarefa.

- Osmar Dias não ficaria sem compensação: se não fizer campanha a favor de Dilma e nem criar constrangimentos para o irmão, terá apoio para reeleger-se senador.

- Com o prefeito Beto Richa seria firmado o compromisso de que Alvaro, eleito governador, não postularia a reeleição. E Beto teria caminho livre para 2014.

Se o sonho de José Serra se realizar da maneira como passa na sua cabeça, sobraria para Dilma Roussef no Paraná o palanque de um candidato próprio que o PT teria de escolher. Nessa hipótese, os ventos sopram a favor do ministro Paulo Bernardo – que, aliás, dá evidentes sinais de que topa o desafio.

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