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Olho vivo

Aperto

Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra que está ficando cada vez mais apertada a distância entre José Serra (PSDB) e Dilma Roussef (PT) na disputa pela Presidência. Em dezembro, Serra levava vantagem de 14 pontos porcentuais (37% a 23%). Agora, são apenas 4 pontos (32% a 28%). Num universo de 100 milhões de eleitores, 4% representam 4 milhões de votos – o que faz crescer a responsabilidade dos tucanos. No Paraná, por exemplo, se diz que a divisão da aliança Osmar Dias-Beto Richa representará uma sangria de 1,5 milhões de votos, que migrarão de Serra para Dilma.

Fé demais 1

Uma influente igreja neopentecostal está produzindo matéria inovadora, no âmbito da ciência religiosa. No sábado, dia 27, distribuía em Curitiba volante denominado "Oração das Causas Urgentes", prometendo rezas e jejum ao meio-dia, "para quem tem causa na justiça".

Fé demais 2

E, mais diligente do que as instituições judiciais, conhecidas pela morosidade com que faz tramitar os processos que lhe chegam, a igreja infundia a fé e aconselhava o eventual interessado: "Coloque aqui o número de seu processo", deixando ao lado um espaço para o preenchimento da petição embrulhada. Tudo respaldado no salmo 37.6, que diz: "Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito como sol ao meio-dia". É preciso fé demais.

Sondagem feita pelo Instituto Paraná Pesquisas por encomenda da Gazeta do Povo – que a publicou na edição de ontem – aponta para um dado no mínimo curioso: 63% dos curitibanos nem sequer sabem o nome do prefeito que vai governar a cidade a partir do início de abril, quando Beto Richa renuncia aos quase três anos de mandato que teria pela frente. Pior: 66% dos eleitores não sabem que o prefeito renunciará ao cargo no início de abril para se candidatar ao governo estadual.

Para dar continuidade a esse comentário, esclareçamos desde logo: o nome do próximo prefeito é Luciano Ducci, que ocupa o cargo de vice pela segunda vez, eleito no embalo nos pleitos de 2004 e 2008.

Dito isso, pode-se acrescentar que Ducci é médico e que é filiado ao PSB, partido que, no plano regional, já esteve (ou está!) nas mãos do ex-prefeito Cassio Ta­­­niguchi por meio do seu fiel escudeiro Severino Araújo, há anos presidente do diretório estadual. No plano nacional, o PSB é comandado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que apoia Ciro Gomes para a Presidência da República. Daí a pergunta que não quer calar: Ducci, companheiro do tucano Richa, fará campanha para José Serra ou para o correligionário Ciro Gomes?

O vice Luciano Ducci é um dos muitos remanescentes da equipe de Taniguchi que permaneceram com Beto quando este, também vice, acabou eleito prefeito pela primeira vez em 2004. Secretário da Saúde, afirma-se que sua força política deriva da suposta liderança que exerce sobre médicos e demais servidores da área – qualidade testada uma só vez, em 2002, quando foi eleito deputado estadual.

O slogan da campanha de reeleição, o famoso "Beto fica!", foi altamente convincente, dados os altos índices de satisfação demonstrados pela opinião pública em relação à primeira administração do prefeito. A tal ponto que Richa bateu o recorde nacional ao obter 77% dos votos. Talvez por isso mesmo, convencido de que Beto cumpriria o slogan criado por seus marqueteiros, os curitibanos nem sequer se preocuparam em saber, primeiro, que havia um candidato a vice; segundo, se ele tinha nome.

Algumas superficiais pesquisas de opinião já buscaram saber o que o povo acha de o prefeito não cumprir integralmente o mandato. A última diz que 58% dos eleitores aprovam a opção que Richa está fazendo, porcentual que já foi maior em sondagem anterior. Não houve até agora, todavia, estudos mais profundos sobre a influência que esse fato terá na cabeça do eleitor. Embora reconheçam que o tema será muito explorado na campanha, os estrategistas de Richa consideram que a influência será mínima ou até mesmo nula.Eles partem do raciocínio de que coisa igual aconteceu com José Serra, em São Paulo. Eleito prefeito da capital em 2004, pouco mais de um ano depois renunciou para enfrentar a velha adversária Marta Suplicy, do PT, na disputa pelo governo paulista. Serra ganhou fácil. Aqui, porém, os observadores apontam pelo menos uma diferença: Richa sai da prefeitura para disputar não com um adversário, mas com um ex-aliado, que o ajudou a se reeleger.

Sobre isso tudo o desconhecido vice Luciano Ducci nada fala. Aliás, até lembra o personagem criado por Jô Soares no programa Viva o Gordo, da década de 80, que repetia o bordão: "Vice não fala!".

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