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José Serra é tucano, logo, adora um muro. Tanto que mantém a estranha estratégia de protelar o anúncio da candidatura a presidente, embora não tenha outra alternativa digna após a desistência de Aécio Neves. Ser titubeante, porém, não significa que ele é mal informado.

Os poucos paranaenses que têm acesso ao governador de São Paulo sabem que ele controla com mão de ferro todas as informações sobre as disputas estaduais do PSDB. Em especial, sobre o que ocorre na fronteira sul. Por isso é previsível saber como Serra irá arbitrar a disputa entre Alvaro Dias e Beto Richa pela candidatura do partido ao Palácio Iguaçu.Para entender o encaminhamento dessa decisão, é importante explicar como funciona a dinâmica das relações dele com as principais lideranças do Paraná. Fora os petistas, o paulista não tem inimigos no estado. Muito pelo contrário.

O governador Roberto Requião dispara agressões para todos os lados (do PT ao PSDB, passando pelo próprio PMDB), mas sempre cita Serra como um "amigo". Além disso, nove entre dez peemedebistas de Brasília interpretam o projeto de candidatura própria de Requião como uma maneira de enfraquecer a aliança com os petistas e restabelecer laços com os tucanos.

O pedetista Osmar Dias, que anda cada vez mais grudado com Dilma Rousseff, também ressalta o bom relacionamento com Serra. Em qualquer menção ao paulista ele cita que os dois foram vizinhos de apartamento em Brasília nos anos 1990 – além dos inúmeros contatos (telefônicos e pessoais) que mantiveram nos últimos meses.

Entre os conflitantes Alvaro e Beto as diferenças são mínimas. Ambos ganham pontos por terem se posicionado sempre ao lado de Serra na disputa interna com Aécio. Alvaro ainda tem o diferencial de, na prática, ser a última resistência de oposição a Lula no Senado depois do despedaçamento do companheiro Arthur Virgílio.

Beto, por outro lado, tem uma proximidade quase familiar a Serra, companheiro do pai dele, José Richa, na fundação do PSDB e durante a Constituinte de 1988. Os dois trocaram figurinhas administrativas nos últimos anos e sempre fizeram questão de se visitar. Beto, por exemplo, fez questão de receber o governador no aeroporto para levá-lo ao velório de Zilda Arns.

Como a política brasileira não é lição de etiqueta, mas um salve-se quem puder puro, Serra não vai levar em consideração as relações pessoais nas sugestões que dará na sucessão paranaense. Vai levar quem trouxer mais votos e ajudar a neutralizar o avanço de Dilma no estado.

No papel, quem preencheria melhor essas características seria Alvaro Dias. Primeiro porque, segundo ele, tiraria o irmão Osmar da parada. De­­­pois, porque supostamente conseguiria atrair o PMDB.

O problema é que emissários de Serra checaram essas duas informações e chegaram à conclusão de que elas são inconsistentes. Osmar não vai abandonar o barco, nem a maioria dos peemedebistas é pró-Alvaro.

Mas não é só por isso que Serra deve tender para Beto. A questão é que o prefeito tem o controle da maioria do partido. Ou seja, é melhor não correr o risco de um racha "nas bases", o que seria muito mais prejudicial à disputa presidencial.

Mais previsível do que isso será a postura do governador. Não haverá manifestações públicas de apoio a um ou outro, nem anúncio de contrapartidas para o nome preterido. Afinal de contas, Serra é pragmático. Mas não deixa de ser tucano.

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