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Transformar eleição em reality show é fórmula certeira para ter a cidade administrada por quem só gosta é da bagunça dos bastidores.

Berço de PT e PSDB, São Paulo é um balão de ensaio da política brasileira – e que costuma influenciar especialmente o Paraná. De lá acaba de sair o primeiro sinal de como devem ficar as disputas eleitorais de 2016. Pesquisa Datafolha divulgada há seis dias apontou que o apresentador de televisão e dublê de deputado federal, Celso Russomanno (PRB), é disparado o favorito para assumir a capital paulista.

Russomanno aparece com 34% das intenções de voto, contra 13% de José Luiz Datena (PP), outro famoso personagem de programas popularescos de TV. Também estão embolados na segunda colocação a ex-prefeita Marta Suplicy (PMDB) e o atual prefeito Fernando Haddad (PT), com 12%. O pastor evangélico Marco Feliciano (PSC) tem 4% e o empresário (e também apresentador!) João Doria Jr. (PSDB) soma 3%.

O cenário não era muito diferente disso antes das eleições municipais de 2012. Russomanno liderava, mas foi atropelado pelo tradicionalismo da polarização PT-PSDB. Lula entrou de cabeça na campanha de Haddad e José Serra (PSDB) fez valer a força regional do tucanato.

A questão agora é que Lula e o petismo entraram em colapso. E que o PSDB não soube aproveitar esse vácuo. Somando ao quadro as novas regras de financiamento eleitoral (que proíbem as doações de empresas), a disputa pelo comando das principais capitais será uma roleta-russomanna.

Sondagens subsequentes do Paraná Pesquisas mostram que o Russomanno de Curitiba é Ratinho Júnior (PSC). O filho do apresentador do SBT também perdeu em 2012, com a diferença de que chegou ao segundo turno. Além dele, o atual prefeito Gustavo Fruet (PDT) deve enfrentar ao menos mais três candidatos competitivos – o deputado estadual Requião Filho (PMDB) e os ex-prefeitos Luciano Ducci (PSB) e Rafael Greca (PMN).

Qualquer um pode vencer. E ainda há uma porção de nomes que correm por fora, como Ney Leprevost (PSD), Tadeu Veneri (PT) e Maria Victória (PP). O futuro de todos depende da consolidação do sentimento de frustração provocado pela crise econômica e política nacional.

No Paraná, essa percepção tem contornos ainda mais profundos do que em Brasília, graças ao desencanto com o governador Beto Richa (PSDB). Se o sentimento de desprezo pelos políticos velhos-de-guerra ganhar contornos ainda mais agudos, vence quem melhor se livrar dos rotos partidários. Será uma era de esconde-esconde.

Fruet será o primeiro a entrar na onda. Até o final do mês, o PT deve formalizar o divórcio com o pedetista para lançar candidato próprio. Será como tirar um peso das costas, mas o esqueleto da antiga aliança com o petismo continuará no armário.

Assim como Ratinho Júnior (PSC) vai carregar o peso de ser secretário da gestão Richa e Requião Filho de portar o legado belicoso do pai. Cada um terá de arcar com o significado de suas escolhas políticas. O que é ótimo.

Por outro lado, a perspectiva de uma guerra eleitoral focada no personalismo é péssima. Exemplo: apresentadores de televisão e seus pupilos sempre existiram na fauna eleitoral brasileira, mas nunca foram opções eleitorais tão sólidas quanto agora. Lembre-se de que eles preferem sempre falar o que o público quer ouvir, para acumular audiência, do que aquilo que realmente pensam.

Transformar a eleição em reality show é uma fórmula certeira para ter a cidade administrada por quem só gosta mesmo é da bagunça dos bastidores.

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