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Nos corredores

Código e financiamento

Mineradoras, madeireiras, reflorestadoras, produtoras de painéis e compensados doaram R$ 207.337,16 a oito dos 30 deputados federais eleitos pelo Paraná em 2010, de acordo com a prestação de contas dos candidatos ao TSE. Desses, seis votaram a favor do novo Código Florestal, aprovado na semana passada pela Câmara, e um está licenciado do cargo, o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano do Paraná, Cézar Silvestri (PPS). São eles: Abelardo Lupion (DEM), Cida Borghetti (PP), Eduardo Sciarra (PSD), Reinhold Stephanes (PSD), Ratinho Júnior (PSC) e Sandro Alex (PPS). O único do grupo que votou contra o código foi Fernando Francischini (PSDB). No final, 19 paranaenses votaram a favor do texto e sete contra.

Cachoeira e o Paraná

O plano de trabalho inicial da CPMI do Cachoeira não incluiu a convocação de personagens flagrados em e-mails interceptados pela Polícia Federal que tratam dos interesses do grupo do bicheiro no Paraná. Adriano Aprigio de Souza, ex-cunhado de Cachoeira, e o empresário argentino Roberto Coppola, que supostamente planejavam a recriação de loterias estaduais no Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina, são alvos de requerimentos que ainda não foram apreciados. Já Lenine Araújo de Souza, que em outra interceptação telefônica fala sobre "entrar" no Paraná, vai prestar depoimento no dia 22 de maio.

Já dizia aquela propaganda que há coisas que o dinheiro não paga, enquanto para todas as outras você pode usar o cartão de crédito. A sacada publicitária é genial, atinge todos os públicos. Mas no mundo dantesco da política brasileira o conceito gera uma confusão danada.

Existem mesmo oportunidades e experiências de vida que só parlamentares, prefeitos, governadores e presidentes conseguem ter. Viagens para o exterior em primeira classe, jantares nababescos, recepções ultravips – tudo grátis e com bajulação dobrada. Escrevi "grátis", porém sabemos que não é bem assim que a banda toca nesse ramo de atividade.

Tudo na política tem um preço – e normalmente ele é salgado. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), está pagando pelo glamour dos tours que fez em 2009 por Paris e Mônaco na companhia do empresário Fernando Cavendish, presidente licenciado da construtora Delta. A empresa, investigada pelo vínculo com o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, tem uma série de contratos públicos e fazia parte, por exemplo, do consórcio que participa da reforma do Maracanã.

Nas fotos da viagem, divulgadas pelo desafeto de Cabral Anthony Garotinho, vê-se um clima festivo, regado a champanhe. De acordo com a assessoria do governador, as imagens da França foram feitas durante uma visita oficial pela candidatura da cidade do Rio de Janeiro à Olimpíada de 2016, na qual ele também recebeu uma condecoração do Senado Francês. Já a passagem por Monte Carlo teria sido custeada pelo próprio Cabral.

Puritanismos à parte, é justo que qualquer pessoa tenha momentos de lazer. Não é bem a descontração do governador que choca, nem a ostentação, mas a pulga atrás da orelha sobre quem está pagando a conta. Afinal, desde que Cabral assumiu o cargo, em 2007, os repasses à Delta triplicaram em relação aos cinco anos anteriores e atingiram R$ 1,16 bilhão.

Também é falso achar que se trata de um caso isolado. Políticos são bem pagos pelo que fazem, mas ainda assim o salário não justifica tanta sede pelo poder. Ao longo de um mandato de quatro anos, por exemplo, cada deputado federal recebe 60 salários de R$ 26,7 mil brutos, o que dá um total de R$ 1,6 milhão. A título de comparação, só os 30 paranaenses eleitos em 2010 fizeram juntos autodoações que chegaram a R$ 7,3 milhões.

Trocando em miúdos, eles "investiram" nas próprias campanhas, como pessoas físicas, um valor que pagaria o salário integral de 4,5 congressistas ao longo de um mandato. Só Edmar Arruda (PSC) tirou do bolso R$ 2,9 milhões para fazer campanha, 50% a mais do que tudo aquilo que vai receber como remuneração da Câmara até 2014.

Será que todo esse esforço financeiro vale a pena? Novamente, é injusto tratar como um caso isolado. E os vereadores de Curitiba que eram beneficiários de contratos de publicidade sob suspeita: será que só o salário não deveria ser suficiente para eles?

No fundo, gastamos muita energia criticando as benesses legais, como a remuneração formal das excelências, e deixamos de lado a fiscalização de aspectos óbvios como as ligações perigosas dos políticos com pessoas interessadas em contratos públicos. São contas e correlações que normalmente não fecham. Coisas que, numa paródia àquela propaganda, é o sempre seu dinheiro que acaba pagando.

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