Um tsunami de denúncias atinge o governo federal. Acusações afetam vários ministérios e citam, entre outros desvios, repasses irregulares para obras em rodovias. A oposição se mobiliza em busca de assinaturas para abrir uma CPI da Corrupção.
A notícia acima cabe em qualquer jornal de hoje. Na verdade, é de dez anos atrás. E, apesar da distância temporal, carrega bem mais semelhanças do que meras coincidências em relação às atuais turbulências do governo Dilma Rousseff.
Em meados de 2001, o então presidente Fernando Henrique Cardoso enfrentava um dos períodos mais críticos de sua gestão. Treze indícios da suspeita de tráfico de influência na Secretaria-Geral da Presidência à liberação ilegal de verbas no Departamento Nacional de Estradas e Rodagem (DNER, hoje Dnit) embasavam um requerimento de abertura de CPI mista feito pelos petistas. Faltavam 19 meses para a eleição e já pairava o clima de que os tucanos não fariam o sucessor.
Em um ambiente tão carregado, a tropa de choque governista seguiu a cartilha: montou uma operação-abafa. Com maioria folgada no Congresso, era praticamente impossível furar a blindagem montada pelo Planalto, que, é claro, incluía farta distribuição de emendas parlamentares. Era o velho esquema de sempre.
Só havia um problema: às vésperas da eleição, não pegaria lá muito bem passar a imagem de parlamentar que é contra a investigação de casos de corrupção. Foi então que apareceram dois paranaenses no meio do caminho do PSDB. Os irmãos Alvaro e Osmar Dias assinaram a CPI e, mesmo pressionados, não voltaram atrás.
Todo o poder do governo caiu sobre a cabeça da dupla. O golpe mais duro foi um processo de expulsão do PSDB. Antes que fossem forçados a se retirar, os dois preferiram sair por conta própria e migraram para o PDT.
Alvaro foi quem sofreu mais. Havia sido o responsável pela estruturação tucana no estado e precisou entregar o partido de mão-beijada para o grupo do então governador Jaime Lerner (DEM). Aliás, anos antes, o mesmo Lerner teve as portas do PSDB fechadas pelo senador.
Osmar conseguiu capitalizar o caso e acabou se reelegendo com uma votação recorde (2.776.250 votos). Já Alvaro, que concorreu ao Palácio Iguaçu, sentiu o peso de concorrer por um partido menor e da vingança dos tucanos, decisivos para levar a disputa para o segundo turno ao lançar Beto Richa com apoio de Lerner e da máquina estatal. Começou a campanha com chances de vencer no primeiro turno, mas acabou derrotado no segundo por Roberto Requião (PMDB).
Corta para 2011.
Uma década depois, já de volta ao ninho tucano, Alvaro é o personagem central da criação de uma CPI da Corrupção no governo Dilma. Informação é o que não falta. O desafio é furar o cerco do governo e conseguir o apoio necessário.
Para refrescar a memória, é bom lembrar que a CPI de 2001 não saiu do papel. Mas talvez fosse até melhor para os tucanos que ela tivesse ocorrido. Carregar por meses o fardo de varrer as denúncias para debaixo do tapete custou caro e ajudou a eleger Lula.
Alvaro, mais do que ninguém, lembra direitinho dessa história. Sabe que, em algumas ocasiões, uma "quase" CPI é muito mais forte que uma CPI que acabe em pizza. Os petistas é que parecem estar com um problema de memória.



