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Entre os caciques e os partidos

Rei morto, rei posto. O ditado preferido de Lula sobre como será seu comportamento a partir de janeiro sinaliza que o tempo é de mudança. Vale para Brasília e também para o Paraná.Difícil dizer se o presidente tem realmente convicção quando fala sobre o próprio futuro e promete distanciamento do Planalto. O fato é que está sendo prudente. Ainda que fosse maquiavélico a ponto de orquestrar o atual momento para garantir o retorno em 2014, ele não tem controle sobre o que vai acontecer.

Dilma Rousseff elegeu-se na aba de Lula e com o carimbo da continuidade, mas não há nada de mais novo e simbólico do que ela. Debutante nas urnas e sem nunca ter sido protagonista da política tradicional, a ex-ministra inaugura um novo ciclo. A escolhida pela maioria dos brasileiros não representa um projeto pessoal de poder, mas os planos do PT – e tudo que isso tem de bom e ruim.

A novidade já foi captada pela oposição, talvez não da maneira mais correta. Há três dias, o mineiro Aécio Neves passou a defender a refundação do PSDB. Quer que o partido atualize seu programa e fuja das armadilhas que levaram às derrotas nas últimas três disputas presidenciais.

Em tese, ele está certo. Sem homogeneidade programática, os tucanos correm risco de extinção. Até agora, a legenda se sustenta apenas no poder de lideranças regionais dispersas, na base do salve-se quem puder.

O próprio Aécio fez isso em Minas Gerais. Moveu montanhas para eleger o sucessor no governo, Antonio Anastasia, mas não transferiu votos para José Serra na campanha para presidente. Fica a lição: por mais que o PSDB tenha elegido o maior número de governadores em 2010 (oito), não consegue deixar de ser uma colcha de retalhos.

No Paraná, Beto Richa (PSDB) teve o mesmo comportamento errático. Escondeu Serra em sua campanha no primeiro turno e só vestiu a camisa para valer no segundo, após dominar o próprio quintal. Vários sinais demonstravam que ele sabia de antemão o que aconteceria com o partido após a derrota nacional.

Em sabatina realizada pela Gazeta do Povo, às vésperas da vitória, Beto foi questionado so­­bre quem era seu ídolo na política. O presidenciável Ser­­ra? Não, Aécio.

Ao que tudo indica, os tucanos caminham para uma revolução interna que vai girar em torno do fortalecimento de Aécio. É justamente o movimento contrário ao do PT. A era Dilma ruma para o compartilhamento de responsabilidades entre uma elite petista, cujo núcleo duro é formado por Antonio Palocci, José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo.

No caso paranaense, Beto também segue uma trilha personalista. Não há lideranças à altura dele entre os aliados locais. Gustavo Fruet, a mais próxima, perdeu as eleições para o Senado e, por enquanto, parece deslocado.

Esse confronto de estratégias entre PT e PSDB vai marcar o panorama pós-eleitoral de curto prazo e será fundamental para o destino político no Brasil. A partir dos próximos anos, ficará mais transparente a distinção entre caciquismo e partidarismo. Caberá ao povo a escolha entre ser governado pela cabeça de um ou de vários.

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