Lula gerou o fato eleitoral mais importante do ano ao anunciar nesta semana que superou o câncer e que vai voltar à política. Se o ex-presidente já era visto como um oráculo petista, capaz de definir sozinho a estratégia do partido e suas principais candidaturas municipais, o retorno após o trauma da doença o transformam em uma espécie de mito. Resta saber em quais campanhas ele pretende mergulhar para valer.
Curitiba está nesse roteiro? Sempre esteve. A ideia de uma aliança em torno da candidatura do ex-tucano Gustavo Fruet (PDT) pode até não ter sido idealizada por Lula, mas com certeza teve o seu aval.
A capital e o Paraná como um todo são um entreposto estratégico no xadrez nacional entre PT e PSDB. Minar os tucanos no Sul é uma forma de furar a blindagem antipetista em São Paulo. E o PSDB só continuará tendo peso como oposição enquanto mantiver a soberania paulista.
Em recentes disputas paranaenses, Lula foi decisivo para as eleições de Roberto Requião (PMDB) em 2002 e 2006. Em 2010, o ex-presidente teve uma presença massiva na campanha de Osmar Dias (PDT). Ajudou, mas não o suficiente para evitar a derrota para Beto Richa (PSDB).
Na época, Osmar enfrentou um dilema parecido ao atualmente encarado por Fruet. Osmar, que era senador, também já havia sido filiado ao PSDB e pairavam dúvidas sobre o novo arranjo com Lula e o PT. Mesmo perdendo e criticando a maioria dos demais aliados, ele nunca deixou de reconhecer o mérito da parceria com o ex-presidente.
Em 2005, Fruet era deputado federal pelo PSDB quando foi sub-relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o mensalão. O desempenho na investigação do maior escândalo da era Lula fez com que ele fosse reeleito como o deputado mais votado do Paraná no ano seguinte. Já o ex-presidente, que esteve próximo de cair devido ao episódio, conseguiu se reerguer e deixou o governo em 2010 com 80% de aprovação.
Há quem pense que o caso gerou feridas tão profundas que impossibilitariam uma aproximação entre os dois. Não é bem assim. Tanto que um dos principais defensores do apoio a Fruet dentro do PT é o deputado paranaense Zeca Dirceu, filho do pivô do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
A decisão final dos petistas sobre coligar-se ou não com Fruet só sai em abril. Com as bênçãos do campo majoritário do partido e dos ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo, é bem difícil de a proposta ser rejeitada. Procurado para comentar a volta de Lula, o pedetista disse que só fala sobre o assunto depois da definição interna do PT.
Deixou claro, no entanto, que o passo seguinte de uma possível aliança seria colocar-se ao lado de Gleisi e da presidente Dilma Rousseff. "É um processo natural", diz. E de Lula?
"O ex-presidente tem uma aprovação muito grande entre os curitibanos, algo apartidário", continua. Em suma, não haveria qualquer objeção. Por outro lado, Fruet frisa que a disputa será pautada por questões de interesse local e não nacional.
Então Lula seria como uma carta guardada na manga. Se vai funcionar como um coringa capaz de definir o jogo, só o decorrer da campanha vai dizer.



