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Nos corredores

Tática da aprovação

Na passagem por Brasília, o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci explicou sua tática para firmar-se como candidato à reeleição em 2012. Ele vai jogar todas as fichas na atração de investimentos e na realização de obras em Curitiba. Fazer a lição de casa e garantir uma boa aprovação do governo, segundo ele, é uma agenda muito mais positiva do que antecipar as costuras políticas.

Kassab, não

Ducci citou o caso do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que tem gasto mais energia dando explicações sobre a fundação de seu novo partido, o PSD, do que promovendo a administração da cidade. Apesar de aliado do PSDB, o prefeito curitibano também disse que não há qualquer impedimento de uma aproximação com o PT. "Eu me dou bem com todo mundo", disse.

Nem Freud explicaria os valores embutidos nas principais discussões políticas do momento. O que é sigilo e mordaça para uns, é um melhor-deixar-pra-lá para outros. Há os que acreditam que privilegiar parentes em cargos públicos é uma questão de mérito – e os que enxergam o fato simplesmente como nepotismo.

É ambíguo, mas tem lá a sua lógica: o que "eu" faço é de bom coração. Já o que "eles" fazem sempre cheira a sacanagem. Mesmo que seja exatamente o que "nós" fizemos no passado (ou faremos no futuro).

A começar pelo decano da política nacional. Com 56 anos seguidos de mandatos eletivos nas costas, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tem sido ao lado do colega Fernando Collor (PTB-AL) o principal obstáculo para a aprovação do projeto que acaba com o sigilo eterno de documentos oficiais. Segundo ele, não é certo fazer "wikileaks" da história do Brasil – ou seja, é melhor para todos nós que continuemos não tendo informações sobre algunas cositas de nuestras fronteras.

O mesmo Sarney, por outro lado, virou um leão na defesa da transparência ao criticar o governo por tentar aprovar um dispositivo que garante segredo sobre as licitações de obras para a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016. Argumen­­tou que a proposta "inevitavelmente" levanta dúvidas sobre os orçamentos da Copa.

Os mesmos dois assuntos fazem o governo andar em ziguezague. A nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, já foi a favor do sigilo eterno para os documentos oficiais, mas mudou de ideia na semana passada. Nem por isso defendeu transparência total para as obras da Copa.

No Paraná, mudam-se os assuntos, repetem-se as práticas. Em maio, o governador Beto Richa e o presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni, ambos do PSDB, anularam a nomeação de Maurício Requião (irmão do ex-governador Roberto Requião) para a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Ninguém nega razão aos tucanos – o processo que levou à escolha de Maurício tem mesmo sinais claros de nepotismo.

O estranho é que, na semana passada, o mesmo Legis­­lativo presidido por Rossoni aprovou a proposta de Beto para a criação de duas supersecretarias. A pasta da Família e Desenvolvimento Social é comandada pela esposa do governador, Fernanda Richa, e a da Infraestrutura e Logística está nas mãos do irmão dele, Pepe Richa. Juntas, elas têm 80% da capacidade de investimento do governo.

Todos esses casos, nacionais e locais, têm bem mais semelhanças do que diferenças. São iguaizinhos na manipulação dos conceitos de certo e errado. E também no fato de que essa é uma prática suprapartidária.

Não que a política precise ser uma novela maniqueísta, de mocinhos e bandidos, mas seria verdadeiramente útil saber o que esperar dos políticos. Puritanismo à parte, eles prestariam um serviço à democracia se pelo menos de vez em quando tentassem se diferenciar para valer uns dos outros.

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